Após onda de ataques, ministro Flávio Dino envia a Força Nacional ao Rio Grande do Norte

Ao menos 14 cidades do Rio Grande do Norte registraram ataques criminosos nesta terça-feira (14), com ônibus incendiados e alvo de tiros e prédios públicos depredados.

A onda de violência começou na madrugada, logo depois da meia-noite, e se estendeu durante o dia. De acordo com o governo do estado, a suspeita é que os ataques tenham sido coordenados pelo crime organizado como resposta a ações policiais recentes que culminaram na prisão e morte de criminosos e na apreensão de armas e drogas.

Até as 18h50 desta terça, ao menos 20 pessoas tinham sido presas, e um adolescente, apreendido. Um suspeito foi morto em confronto com policiais, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública e da Defesa Social do estado.

Os ataques foram registrados em Natal, Acari, Boa Saúde, Caicó, Campo Redondo, Cerro Corá, Jaçanã, Lajes Pintadas, Montanhas, Mossoró, Parnamirim, Santo Antônio, Tibau do Sul e São Miguel do Gostoso. Diante da violência, empresas do transporte coletivo tiraram seus ônibus de circulação durante a tarde.

Segundo o diretor do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Rodoviário do Rio Grande do Norte, Gilvan Silva, ao menos oito ônibus foram atacados no estado desde a madrugada desta terça —segundo ele, seis foram incendiados e dois foram alvejados a tiros. Outros três veículos sofreram tentativas de incêndio, sem sucesso. Um motorista de ônibus chegou a ser atingido de raspão por disparos em Parnamirim, ainda de acordo com o diretor do sindicato. Ele foi socorrido e passa bem.

”O clima é de insegurança para a classe trabalhadora, a gente não sabe de onde vem nem para onde vão os bandidos. Foi por isso que toda a frota foi recolhida”, disse Silva. No início da madrugada, em Acari (a cerca de 200 km de Natal), veículos que estavam no pátio da Secretaria de Obras foram incendiados. Uma empresária de 39 anos, que pediu o anonimato, conta que ouviu os primeiros estrondos e diz ter visto fogo e fumaça da janela de casa.

Em Caicó, principal cidade da região do Seridó, um empresário de 35 anos, dono de uma loja, disse à reportagem que o clima de medo no comércio é generalizado. Um posto de combustíveis e uma agência bancária da Caixa Econômica Federal foram alvo de tiros, e uma concessionária foi incendiada.

Por causa dos ataques, universidades públicas do estado anunciaram a suspensão das atividades ao menos nesta terça (14). Na Ufersa (Universidade Federal Rural do Semi-Árido), a suspensão de aulas atinge o campus sede, em Mossoró, além dos campi de Pau dos Ferros, Angicos e Caraúbas e um polo localizado na cidade de Serra de São Bento.

Campi da UERN (Universidade do Estado do Rio Grande do Norte) em seis municípios também tiveram atividades presenciais canceladas. Professores de escola pública de Parnamirim, na região metropolitana, contam terem recebido por WhatsApp um aviso de aulas suspensas após os ataques.

A Secretaria de Segurança Pública disse que a Polícia Civil investiga a origem de um comunicado que circula no WhatsApp convocando atos contra órgãos públicos. A mensagem diz ainda que “o crime do Rio Grande do Norte se uniu contra opressões, humilhação e desrespeito”.

Em meio à crise, a governadora Fátima Bezerra (PT), que cumpre agenda em Brasília, disse que anteciparia sua volta para Natal. Em um vídeo, a governadora descreveu os episódios de violência como ”inaceitáveis” e afirmou que ”todo o trabalho está sendo feito para os que os criminosos sejam presos, julgados e punidos com o rigor da lei”.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse que autorizou o uso da Força Nacional no Rio Grande do Norte para colaborar com a ação das forças estaduais de segurança.

Renata Moura/Folhapress