Aos 45 do 2º Tempo

Lorena Guimarães

Hoje, conversando com um amigo, que é daqueles politicamente “Direita ao Extremo”, sobre a Copa do Mundo, eu,  na maior empolgação, já querendo saber a tabela dos jogos para ver os dias em que o “amarelinho canário” irá jogar, ele com um tom de revolta, me solta essa:  “Quero mais que o Brasil perca a Copa, que durante o mundial se instale por aqui o caos nunca visto, porque aí o povo se revolta contra o Governo, e tira Dilma e o PT fácil, fácil…”

Nunca fui da turma do politicamente correto. Na escola fazia parte da turma do fundão, sempre tive medo das pessoas que se dizem donos da verdade, pois na prática são as que mais nos decepcionam nas ações. Então não disse nada, pois com pessoas radicais demais não tem saliva que chegue. Não concordo com a opinião dele, mas respeito. Acho que não é por aí, e não é desse jeito que se resolve as coisas. Mas, no meu pensamento, um filmezinho passou em mente e que foi me deixando muito intrigada com o final dessa história.

Ah, se tudo fosse fácil assim… E se os problemas da nação pudessem ser resolvidos no período da Copa, só porque os olhos do mundo estarão voltados para cá. Aí querem resolver tudo aos 45 minutos do segundo tempo. Acho que é esse o mal de nós, brasileiros. Se no período da preparação que era para acontecer as grandes mudanças na infraestrutura, na educação, na saúde não ocorreram, e em nenhum momento vi ninguém se manifestar, não é agora que tudo se resolverá. Já saímos perdendo nisso tudo. Aí, sair do Mundial sem a taça do Hexa, não dá, né?

Os times levam para o campo toda a raça, até o último segundo da partida. No futebol até o time mais desacreditado, aquele que vem só pra cumprir tabela, chega com bagagem repleta de raça.  Na partida a torcida aflita espera roendo as unhas por cada drible, cada jogada, falta, escanteio, cobrança de pênalti… Até já deu para ouvir o Galvão Bueno gritando: “Aguenta Coração…”. E quando chegamos aos acréscimos e o bendito juiz enrola para soprar aquele bendito apito…  Eita jogo sofrido, meu Deus!
Tá bem que muitos de vocês não curtem a narração do Galvão Bueno, mas vamos respeitar.

Mas deixa eu prosseguir, eu aqui contagiada com a magia da Copa e doida para dizer ao revoltado a minha opinião e que o resultado do jogo não irá mudar os resultados nas urnas. O Governo está blindado, boa parte da população vai assistir à Copa 2014 com sua boa SmarthTV de 42 polegadas…

Na cabeça de muitos, dane-se o Hexa e, junto, a educação, a saúde… O que é válido é a concretização de um sonho. Pela primeira vez muitos terão a oportunidade de ter em casa uma TV daquelas que têm internet e tudo… Isso que marca.  E, para eles,quem foi que proporcionou a compra dessa TV dividida em 24 meses, muitas vezes paga com o “suado” dinheiro do Bolsa Família e que na ultima semana já teve anúncio de aumento em 10%? Então, não venha querer acabar com o baba dos outros não, meu irmão.

A milhares foi proporcionado a satisfação de se chegar em casa, no conforto do seu sofá, comprado com aquele outro cartãozinho de R$ 5 mil destinado à compra da mobília para os contemplados do Minha Casa Minha Vida mobiliarem suas residências. Para muitos, é a primeira Copa que irão assistir naquela casa que eles podem chamar de “minha”. Vou te contar que com isso tudo me senti agora na primeira parte do jogo, sabe, naquela hora que o juiz joga a moedinha para cima, no famoso Cara ou Coroa, para saber quem escolhe a bola ou o lado da área para iniciar a partida. A reflexão vai muito mais além… Mas tem coisas que não têm como discutir…  Aí que dá vontade de gritar bem alto no ouvido daquele meu amigo politicamente correto, a frase do “Cumpadi Washington”: “Sabe de Nada Inocente”.

#Sóobservando.

Lorena Guimarães é jornalista.

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