Crise com Sérgio Moro mostra que combate à corrupção no governo atual é farsesca

Moro ainda enfrenta resistência no Governo. Foto:Isaac Amorim

Deixar o governo Jair Bolsonaro (sem partido) imediatamente seria a única forma de o ministro Sérgio Moro corrigir o equívoco político que cometeu de ter se tornado auxiliar de uma figura com a estatura do atual presidente da República.

A tentativa de Bolsonaro de, utilizando-se de um movimento de secretários de Segurança Pública capitaneado, entre outros, pelo representante baiano Maurício Barbosa, mais uma vez retirar a Polícia Federal das mãos do ministro não deixa dúvidas de que o compromisso do presidente com o combate à corrupção não é tão seguro como ele garante.

Ministro mais popular do governo exatamente por causa da bandeira que assumiu no Brasil com sua atuação pela Lava Jato, maior operação de combate à corrupção já realizada no país, Moro tem a oportunidade de, saindo do governo, ele próprio se articular em sua defesa.

Pode ser como candidato a presidente da República em 2022 – por que não? – ou como figura pública respeitada, que possa atuar fora de uma gestão que não consegue mais disfarçar seu desconforto com a tese de combater a corrupção e a impunidade a qualquer custo.

Quando tenta recriar o Ministério da Segurança Pública esvaziando Moro, Bolsonaro pensa apenas em evitar que o senador Flávio, seu filho, investigado pelas rachadinhas na Assembleia do Rio e ele próprio, por extensão, sejam alvos de apurações comprometedoras.

Até um indicado para o comando da PF, aliás, o principal articulador da recriação do Ministério, Bolsonaro já tem. Trata-se do atual secretário de Segurança do DF, Anderson Torres, cuja indicação para o órgão foi vetada no passado por Moro.

O candidato a chefe da Polícia Federal conta com o apoio de um ex-deputado obscuro, Alberto Fraga (DEM), que se articula com Bolsonaro para assumir o novo Ministério e, obviamente, como um bom político, agir da forma como o presidente da República gostaria na pasta.

Mas o combate à corrupção no país precisa prosseguir, doa a quem doer, e principalmente diante da resistência interessada de políticos que vão da esquerda à direita, todos unidos contra Moro, lamentavelmente, como o próprio presidente da República, como se pode perceber.

O recuo de Bolsonaro em relação ao novo Ministério, pressionado pelas milícias digitais que o apóiam mas que, felizmente, não se desviam da proposta de combate à corrupção, assim como pela sociedade brasileira que não aguenta mais a rotina de desvios de dinheiro público, não deveria, entretanto, reter mais Moro neste governo.

Este último episódio deixa cristalino que não há mais possibilidade de liga entre os dois. Moro e Bolsonaro são como água e óleo. Não se misturam. E é Moro que, por sua genuína identidade com ela, precisa do apoio da sociedade para dar prosseguimento à luta contra a corrupção e a impunidade no país.