Trajetória de inflação está em queda, mas índices de serviços exigem atenção, diz Campos Neto, presidente do Banco Central

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, voltou a destacar a inflação de serviços bem acima da média histórica no mundo, o que leva a uma cautela das autoridades monetárias.

Em palestra na Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Campos Neto ressaltou que, embora em queda, os núcleos de inflação caem lentamente e permanecem em níveis elevados em vários países. Ele pontuou que a inflação nos Estados Unidos surpreendeu um pouco para cima em suas últimas medições, demonstrando que a velocidade da desinflação diminuiu.

O presidente do BC observou, contudo, que no Brasil a queda dos núcleos de inflação foi mais acentuada, e que a alta de preços está em processo de convergência em direção à meta. Mas, apesar de a inflação estar em trajetória de queda, a situação ainda requer atenção, pois a inflação de serviços segue acima dos níveis de 2018 e 2019.

O presidente do BC observou ainda que a economia segue surpreendendo, citando revisões para cima das expectativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2024 após a alta de 2,9% registrada no ano passado.

Incentivos
Ao abrir a sua palestra na ACSP, Campos Neto lembrou que os incentivos fiscais e monetários concedidos na pandemia para evitar uma depressão econômica tiveram efeito inflacionário em todos os países. Como resultado da alta dos juros, a inflação começa a cair no mundo, porém agora em ritmo mais lento.

Conforme mostrou Campos Neto, enquanto a China contribui para exportar desinflação nos preços dos bens, a inflação de serviços segue pressionada por uma mão de obra apertada no mundo inteiro, com o desemprego caindo rapidamente em meio a mudanças estruturais.

Risco geopolítico

Segundo ele, em meio aos múltiplos conflitos no mundo, os riscos geopolíticos subiram muito. Esse cenário, pontuou, implica riscos de desaceleração econômica mais forte.

Campos Neto observou ainda que o mundo enfrenta o desafio de pagar as contas dos estímulos fiscais dados na pandemia – ou seja, de reequilibrar as contas públicas -, atendendo, ao mesmo tempo, as demandas sociais e buscando um crescimento equilibrado. Ele pontuou que, com a inflação em baixa, ainda que em ritmo mais lento, grande parte dos países tem expectativa de queda dos juros, com atenção especial sobre a decisão do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos.

Ele chamou a atenção para a sinalização do Fed de não reduzir seus juros enquanto não houver confiança na convergência da inflação em direção à meta de 2%. Campos Neto voltou a dizer que, com elevação do endividamento e dos juros, o custo de rolagem da dívida nos EUA subiu. Essa conta paga pelos americanos, emendou, pode afetar a liquidez de mercados emergentes.

*Eduardo Laguna e Francisco Carlos de Assis/Estadão Conteúdo