Sou um deputado que não tem ‘rabo de palha’, diz Leão

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Deputado João Leão concede ampla entrevista ao Jornal A Tarde

Ex-prefeito de Lauro de Freitas e deputado federal em cinco mandatos, João Leão dizia que Rui Costa como candidato ao governo não agregava apoios. Agora na condição de vice na chapa do petista, diz que mudou de opinião. Leão está convencido de que a eleição será resolvida no primeiro turno.

Nas negociações conduzidas pelo governador Jaques Wagner para definir o vice da chapa governista o seu nome nem era cogitado. Sua escolha surpreendeu. Como entrou no processo?
Olha, surpreendeu até a mim porque eu não estava dentro do jogo. Eu tinha um candidato que era o deputado federal Mário Negromonte. Mas em algumas conversações, diálogos na política, os companheiros do nosso partido decidiram que deveria ser eu. Até porque Mário tinha outras pretensões (politicas). Então, fiquei eu.

Nos bastidores se falava que o seu nome foi o plano B emergencial, já que nas denúncias contra o doleiro Alberto Yousseff (envolvido no escândalo da Petrobras) consta que ele teria intermediado doações para deputados e diretórios do PP. Uma reportagem cita, inclusive, que ele teria relações com um irmão do deputado Negromonte. Isso teve algum peso para o senhor ser o escolhido e não Negromonte?
Primeiro não existia absolutamente nada disso na época em que eu fui escolhido. Não existia doleiro, não existia nada, nada. Agora, o deputado Mário Negromonte foi ministro, é uma pessoa de nome nacional e o que nos consta é que ele não tem envolvimento com essa história do doleiro. Essa história do irmão dele é problema do irmão dele, não dele. O que ocorreu de fato para minha escolha é que foi feita uma pesquisa qualitativa indagando às pessoas qual seria o vice ideal. Segundo o governador Jaques Wagner de cada 11 pessoas 10 escolheram o meu nome. Então não foi uma escolha do governador, do meu partido, foi uma escolha do povo.

O fato de o senhor ser uma liderança forte no Oeste da Bahia, onde o governo enfrenta dificuldade para mobilizar o eleitor, as lideranças, pesou na sua escolha?
Primeiro, se tem um governo que trabalhou e fez muito na região do oeste da Bahia foi o governo Wagner. Ele tem um trabalho excepcional ali. Começa com a rodovia Oeste-Leste, que vem sendo feito, já está em execução, com os investimentos do governo federal na área de desapropriação do porto e desapropriação de toda a linha da ferrovia, que ficou a cargo do governo do estado. Temos no oeste um clamor para concluir aquilo que o governador iniciou. Eu disse lá na região, que quando essa rodovia estiver funcionando vamos ter que botar uma estátua do ex-presidente Lula, uma da presidente Dilma, uma do governador Jaques Wagner, e Leãzinho pequeninho lá, porque quem levou o projeto na época (2007) para o Lula e para Wagner fui eu. Um projeto de minha autoria e com um auxílio muito grande do senador Walter Pinheiro (na época deputado federal do PT).

Mas a ferrovia ainda vai demorar e no Oeste da Bahia há um forte sentimento separatista, que reclama do Estado investimento em infraestrutura, estradas, energia. O PT, há quase oito anos no governo, podia ter feito mais pela importante região do agronegócio.
Olha, a ferrovia Oeste-Leste já saiu do papel, estamos com praticamente todos os trechos iniciados. Faltavam três lotes serem liberados: a ponte sobre o Rio São Francisco (lote 5-A), o lote 6, que vai até São Desidério, perto de Barreiras, e o lote 7. Estes lotes todos foram liberados, agora (semana passada). O lote 1, que é o primeiro lote e fica próximo ao porto na chegada de Ilhéus , tinha um problema com o Ibama. Depois tivemos um problema da empresa que venceu a licitação. Foi chamada a segunda colocada e já está tudo correndo. Se tem uma coisa que está andando bem é a ferrovia, e muito disso nós devemos ao ministro dos Transportes César Borges (PR). Quando César entrou no ministério (abril de 2013), a coisa começou a caminhar bem.

O senhor defendia o nome do senador Walter Pinheiro para suceder o governador Wagner. Chegou a declarar que Rui Costa não agregava aliados. O que o fez mudar de opinião?
A finalidade da vida é fazer que nós tenhamos uma opinião e quando você é convencido por outrem, você muda de opinião. Mudei de opinião. Eu acho o senador Walter Pinheiro um quadro excepcional, é um dos melhores quadros do PT no Brasil. Agora, quando passei a conhecer Rui Costa, junto com Walter Pinheiro, vi que Rui está tão preparado para governar a Bahia quanto Walter está.

O senhor não participou dos atos da visita da presidente Dilma à Bahia, na semana passada. Nas redes sociais correu a notícia de que o senhor poderá sair da chapa. Isso é verdade?
Olha, quando eu entro num barco entro para remar para frente. Não sou carangueijo que anda para trás. O que aconteceu é que tive que participar de uma palestra, na Comissão Mista de Orçamento do Congresso com a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para tirar dúvidas sobre o orçamento da União. O resto é fofoca.

Essa fofoca partiu de onde?
O que dizem é que os adversários (não citar nomes) montaram uma central de fofoca. É o zunzunzum que está aí na praça. Então estão dizendo que o ministro Mário está por traz disso, que o governador Jaques Wagner vai sair na Veja (envolvido em denúncias) ….. de uma coisa eu tenho certeza: eu jamais vou sair em nenhuma coisa dessa, porque se tem uma pessoa que não tem rabo de palha naquele Congresso Nacional, sou eu. Sou parlamentar há 20 anos, fui prefeito de Lauro de Freitas por quatro anos e não tenho nenhuma mácula na minha história. Isso é uma coisa que me orgulho muito.

Como vice-governador o senhor acha que vai poder influir nas decisões de governo, caso Rui seja eleito?
Vou ser um parceiro, ajudar o nosso candidato a governar. (pegou uma folha e leu) E governar é reformar o que não funciona, conservando o que merece ser conservado; governar é jamais impor sobre a vida de terceiros, uma única hierarquia de valores e comportamentos; governar é respeitar a lei e não ceder aos caprichos arbitrários dos homens; governar é garantir esse espaço de liberdade em que cada indivíduo procura melhorar a sua condição de vida; governar é exercer o poder temporariamente, humildemente e não detê-lo com avareza doentia de quem se agarra a um tesouro roubado; finalmente, governar bem está sintetizada numa frase que dizia desde que era prefeito de Lauro de Freitas: o bom governo não é de esquerda, nem de direita. Aquele que gasta mais do que arrecada é incompetente mesmo. Então o bom governo é aquele que gasta menos do que arrecada.

Mas o governo Wagner está com problema de caixa, não está?
Está temporariamente. O governo do estado está com problema de caixa e o Brasil também está. São Paulo, que é do PSDB, também está. O Rio de Janeiro é do PMDB, também está. Pernambuco que é do PSB, está com problema de caixa, também. Então é um problema conjuntural. É preciso sentar e resolver. Todo governo que está saindo, quer fazer mais. Então deixa alguns problemas para os outros. Mas quando eu fui prefeito de Lauro, deixei muito dinheiro em caixa para Otávio Pimentel, que foi meu sucessor.

O senhor disse que governar é reformar o que não funciona, conservando o que merece ser conservado. O que não está funcionando no governo Wagner e o que merece ser conservado?
Em todo governo tem algumas pedras que precisam ser mudadas. Não existe governo perfeito. O que nós precisamos é governar bem. Vou dar um exemplo: o nosso partido, o PP, tem a Secretaria de Agricultura, a secretaria dos Portos e a Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regional (Sedir). De vez em quando você tem que tirar uma peça. Vamos falar de agricultura, o meu berço. Você chega em algumas regiões na Bahia, como em Rio Real, no nordeste do estado, onde se produz 16 toneladas por hectares de laranja. São Paulo produz 30 toneladas. Está algo errado, temos que incentivar o produtor. Nós temos um rebanho bovino de 12 milhões de cabeças. Nós perdemos agora (com a seca) algo em torno de 1 milhão de cabeças na Bahia, porque não se preparou os produtores, para o uso de silagem, para o gado não morrer. Vamos ter que ensinar as pessoas.

Isso é o que o senhor pretende levar num eventual governo de Rui Costa?
É preciso uma visão global da economia do estado. No extremo sul há algumas vocações, como o turismo que é excepcional. Temos algumas rodovias que ligam a Minas Gerais, mas que o acesso ainda é difícil. Então temos algumas deficiências. O governador Jaques Wagner vai fechar o governo com 8 mil quilômetros de rodovia. Fizemos 500 mil ligações elétricas pelo programa Luz para Todos. Os eixos rodoviários foram colocados, falta fazer ainda as interligações. A Bahia tinha uma única universidade federal desde 1808, que é a Ufba. E sete anos depois, no atual governo, temos mais seis. Demos uma mexida na Bahia, mas precisamos continuar este trabalho.

As pesquisas mostram que a presidente Dilma se mantém na dianteira da corrida sucessória, mas ela vem caindo em todos as regiões e já é dado como certo o segundo turno. O senhor acha que o mau desempenho da economia, inflação em alta e as denúncias na Petrobras podem atrapalhar ?
Não, isso de queda em pesquisa é natural em campanha eleitoral. Lula teve de enfrentar dois segundos turnos. Já Wagner ganhou no primeiro , quando não se esperava. Paulo Souto tinha 76% na pesquisa de intenção de votos. Então, eleição é eleição. Acredito muito no trabalho que a presidente Dilma vem fazendo no País. Na Bahia, tínhamos uma única escola técnica, hoje temos 30. Na infraestrutura temos a Fiol, todas as rodovias federais foram restauradas, estamos duplicando a BR 101 e vamos duplicar a BR 116. Então, estas coisas todas estão acontecendo no estado, mas queremos mais.

Tudo indica que aqui na Bahia também haverá segundo turno…..
Eu não acredito, não, e se brincar, vamos ter um percentual (de votos) maior do que teve Wagner. Na eleição passada (2010) disputavam Geddel (PMDB) e Paulo Souto (DEM), dois nomes conhecidos no estado. Souto foi governador três vezes e Geddel é um nome hiperconhecido. Tinha tudo para ter segundo turno e não teve. Portanto, eu, que estou rodando a Bahia inteira, tenho certeza que vamos ganhar no primeiro turno.

Mas o fato de o PT perder as duas últimas eleições em Salvador, que é o maior colégio eleitoral do estado, não diz nada?
Essa questão de Salvador é muito relativo. Se nós perdermos por 1 milhão de votos de frente em Salvador ainda assim nós ganhamos a eleição. Porque nós temos o interior da Bahia. Na política da Bahia você tem a banda A, que é o prefeito, e a banda B, que é a oposição ao prefeito. O que está acontecendo nas nossas andanças para a construção do programa participativo? Estão vindo juntas, a banda A e a banda B. Dos 417 municípios, em 350 nós termos a banda A e a banda B apoiando o candidato Rui Costa e o nosso senador Otto Alencar (PSD), grande liderança política e um dos pilares da nossa chapa.

E a segurança, não é uma pedra no sapato do governo?
Em São Paulo a segurança está um caos. No Rio de Janeiro está um caos. Se mostrar a segurança em Pernambuco, está um caos. Na Bahia, está ruim, está um caos. Porém foi um governo que fez grande investimento em segurança pública, em novas viaturas e coletes para a tropa. Mas segurança, e eu vou mostrar isso para o meu querido governador Rui Costa, não é só a polícia, não. é política social. Tem que ensinar segurança nas escolas especiais, na capacitação, no treinamento da meninada, para não se envolver com drogas. Vai precisar desse trabalho na base, porque em um governo só, não se faz tudo. Informações do A Tarde