Senador bolsonarista Marcos do Val usa aplicativo Telegram para minar indicação de Eduardo Braga na CPMI

O senador bolsonarista Marcos do Val usa o Telegram. Foto: Reprodução

Indicado como membro da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Atos Golpistas, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) usa o Telegram para tentar impedir que o senador Eduardo Braga (MDB-AM) assuma o posto de relator na CPMI. Do Val, ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, chegou a distribuir num grupo da rede social com mais de 12 mil membros o número do celular do colega de Senado e incentivou pessoas a ligarem para Braga falando contra sua pretensão de ter um posto de comando na comissão parlamentar.

”Não podemos deixar isso acontecer (que Braga seja relator)!! Pedi a minha assessoria para levantar no regimento alguma possibilidade de bloquearmos isso. Vocês podem fazer pressão com o senador Eduardo Braga!”, escreveu. Depois, compartilhou uma imagem de Braga na campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante as eleições. “Não podemos permitir!” Procurado, Braga disse não ter conhecimento do vazamento e preferiu não comentar.

No grupo de Telegram, Do Val compartilha conteúdos próprios para serem impulsionados e alguns bastidores de articulação. No final de abril, por exemplo, ele postou um vídeo dando um tiro com um rifle sniper com a legenda ”treinando para a CPMI”. A atitude expõe como deverá ser os trabalhos da comissão, que, assim como a CPI da Covid, usará as plataformas para ganhar a guerra de narrativas entre apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Bolsonaro.

Do Val é um dos mais fervorosos apoiadores da CPMI, mas com foco de querer envolver o governo petista na apuração. Ele foi um dos primeiros a fazer visita pública aos detidos que vandalizaram o Supremo Tribunal Federal (STF), o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional. No grupo, ele ataca membros do governo como o ministro da Justiça, Flávio Dino, a quem chama de ”bandido” e de ”lixo” e ainda publicou uma montagem em que ele aparece posando frente a Lula algemado.

Na iminência da criação da CPMI, disse que ”a guerra está apenas começando”.

Receoso de que o governo possa assumir a presidência ou relatoria, ele também já divulgou anteriormente o telefone de gabinete dos líderes partidários e pediu para que os seguidores ligassem cobrando que o indicassem como relator.

Nos últimos dias, a oposição vem acumulando derrotas na formação da CPMI. Neste momento, congressistas creem que o grupo não conseguirá ter o controle nem da presidência, que deve ficar com Arthur Maia (União-BA), mais ligado ao Centrão, e podem ver alguém mais ligado ao governo, como Eduardo Braga, assumir a relatoria. Para Do Val, caso isso aconteça, ”a CPMI não terá nenhum resultado”.

Na Câmara, o PT ainda ganhou direito a mais uma cadeira do total de 16 que a Casa pode indicar. Em ofício enviado ao Congresso Nacional, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) não incluiu o Novo no cálculo de proporcionalidade para poder participar da CPMI, retirando o partido da oposição da cadeira de rodízio. ”O presidente Arthur Lira não pode encaminhar à Casa ao lado um documento rasgando o regimento”, disse o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), que seria o indicado do partido. Ele argumenta que sua legenda tem direito a um assento na Comissão Mista de Orçamento (CMO). Desta forma, a vaga de rodízio da Câmara não terá ninguém da oposição.

No Senado, uma troca de blocos feita pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) pode tirar mais uma cadeira da oposição para dar lugar ao governo. O senador Rogério Marinho (PL-RN) formulou uma questão de ordem contestando a decisão, respondida pelo presidente do Senado e do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), nesta sexta-feira, 5, em desfavor do líder da oposição no Senado.

Sem resolução sobre o cálculo de proporcionalidade ou o nome para a relatoria, a CPMI, que teria início nesta semana, foi adiada, com previsão de início ou na próxima semana ou na segunda quinzena deste mês. O governo projeta ter 20 das 32 cadeiras que comporão a comissão.

*Levy Teles/Estadão