Requiem para Paris

Sebastiao-Nery1

RIO – Em Paris, desde a primeira vez, em 1955, eu pensava em Gilberto Amado, sergipano de Estância e universal como todo gênio:

– “Uma rua de Paris é um rio que vem da Grécia”.

Para mim, o rio correu até minha Jaguaquara, na Bahia.

O sábio Paulo Rónai também lembrou Hemingway sobre Paris:

– “Se tens a sorte de ter vivido em Paris quando moço, por onde quer que andes o resto de tua vida ela estará contigo porque é uma festa móvel”.

E o poeta Murilo Mendes teve medo na guerra, em um verso eterno:

-“Bombardear Paris é destelhar a casa de meu pai.”

O TERROR

Cada um vê Paris com os olhos de sua alma. Meu gordo e saudoso amigo Antonio Carlos Vilaça falava dela como da primeira escola:

– “Paris foi importante para minha geração, uma geração que lia autores franceses. Em Paris pensávamos, éramos”.

São 60 anos. Minha Paris é uma história de 60 anos. De 1955 quando lá estive pela primeira vez até a semana passada, quando mais uma vez deixei Paris depois de mais um mês lá, como faço todo ano. Eu enrolava minha saudade e a canalha terrorista enrolava suas bombas assassinas.

Não consigo imaginar destruída a cidade onde mais sonhei, mais aprendi, mais amei, mais cresci, mais vivi.

CONCENTRAÇÃO

Voltemos ao Brasil. Os professores Marcelo Medeiros e Pedro Souza, da Universidade de Brasília (“Estabilidade da Desigualdade”) demonstram que a concentração da renda continua imutável e ascendente. Estudiosos da desigualdade social brasileira, eles denunciam:

– O segmento do 1% mais rico da população, estimado em 1,4 milhão que ganham a partir de R$ 229 mil anuais, em 2006 tinha participação em 22,8% da renda nacional. Em 2012 cresceu para 24,4% da renda brasileira.

– Entre os 10% mais ricos, não foi diferente. A renda, no mesmo período, avançou de 51,1% para 53,8%. Já a renda dos 90% mais pobres não obteve a mesma performance, mesmo apresentando alguma melhoria.

E o PT dizia-se o partido dos trabalhadores. Virou o dos banqueiros.

DESIGUALDADE

O professor Naércio Menezes Filho, da FEA-USP e coordenador do Centro de Políticas do Insper, no jornal “Valor” (16/10/2015), no artigo “A Desigualdade Começou a Subir”, sintetiza:

– “O Brasil é um país bastante desigual. Essa desigualdade tem sua origem no fato de que a maioria da população ficou excluída do nosso sistema educacional até meados do século XX. Nos últimos 20 anos, porém, o processo de inclusão social que houve fez com que a desigualdade declinasse continuamente. Será que esse processo está chegando ao fim?”

CRISE

“Com tristeza e o coração partido”, o professor e escritor Helio Duque, três vezes deputado pelo MDB e PMDB do Paraná, responde:

  1. – “Lamentavelmente, sim. O governo Dilma Rousseff, por incompetência e centralismo autossuficiente e autoritário, conseguiu interromper um caminho que, mesmo com limitação, se apresentava virtuoso, Os próximos anos serão de frustração do sonho de o Brasil estar marchando para a construção de uma sociedade que avança no combate à miséria e a injustiça social”.
  2. – “Sem crescimento da economia, não existe milagre que possa sustentar a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores. Somente com políticas econômicas de austeridade fiscal é que se pode enfrentar essa realidade adversa: a sustentabilidade das políticas de inclusão social”.

.DEFICIT

  1. – “Historicamente, o “superávit primário”, mesmo nos momentos de crise, sempre foi obtido por diferentes administrações. Quando Dilma assumiu o governo, era de R$ 128 bilhões. Agora, de maneira inédita, a situação é inversa: o “déficit primário” consolidado seria de R$60 bilhões”
  2. – “Com o agravante de o Tesouro ser obrigado a pagar as “pedaladas fiscais” (dívidas atrasadas no BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica), estimadas pelo Tribunal de Contas em R$ 40,2 bilhões”.
  3. – “Com outros penduricalhos, o déficit ultrapassará e R$ 117 recordes de popularidade”. bilhões. Ele foi construído naqueles anos onde a fantasia marqueteira era vendida aos brasileiros que aprovavam e aplaudiam o governo com marcas recordes de popularidade”.

ISABELITA

E de um amigo paulista, que bem conhece a Argentina, vem a definição perfeita de Dilma:

– Dilma é a Isabelita sem Perón.

*Por Sebastião Nery