O que levou Jerônimo a fazer aliança com o PP

Ral Monteiro, jornalista

A decisão do governador Jerônimo Rodrigues (PT) de rapidamente reincorporar os deputados do PP à base na Assembleia Legislativa é a primeira grande prova de que, em sinal de gratidão ao antecessor Rui Costa (PT), sua gestão vai entrar pesado na tarefa de transformar a ex-primeira-dama Aline Peixoto em conselheira do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). De fato, os seis votos que a bancada possui não são de se jogar fora. Eles asseguram tranquilidade para a governabilidade petista desde já, mas, principalmente, para decisões mais polêmicas, como a da aprovação do nome de Peixoto ao TCM.

Como se sabe, os deputados do PP vinham revelando desconforto com a ideia de permanecer na oposição desde as eleições estaduais do ano passado. Apesar de terem se beneficiado da aliança com ACM Neto, que, com o seu apoio, garantiu a reeleição de toda a bancada, com a derrota do candidato a governador do União Brasil, passaram a flertar imediatamente com a perspectiva de retorno para a base, de olho nas benesses que só a relação de aliança de políticos com governos confere. Por muito tempo, entretanto, o desejo de reaproximação foi muito maior do lado dos deputados do PP do que do governo.

Por mais que a volta da bancada à base interessasse a Jerônimo, o governador estava decidido a deixar o grupo temporariamente no sereno. Em parte, como forma de punir a rebeldia do PP por ter rompido com Rui Costa e, consequentemente, com sua candidatura, para marchar com o nome de Neto. Mas também porque a composição administrativa resultante do consórcio que se formou para elegê-lo já havia sido inteiramente armada com os aliados de primeira hora e não havia mais espaço, pelo menos neste primeiro momento, para agregar mais uma força, ainda mais formada por seis parlamentares.

O que teria levado, no entanto, o governador a mudar tão rápido de ideia? Exatamente a necessidade de garantir maioria absoluta na Assembleia para aprovar as propostas mais difíceis, como pode ser definida, a dia de hoje, a votação da indicação da ex-primeira-dama ao Tribunal de Contas dos Municípios. Há no horizonte não apenas a alegada inadequação da candidata para o trabalho de fiscalizar as contas de prefeitos e vereadores por sua formação de enfermeira sem a menor experiência pregressa na área da administração pública. A antipatia que muitos deputados devotam ao ex-governador deverá igualmente contar contra o plano.

Além disso, a ex-primeira-dama enfrentará a oposição de um adversário considerado duro, o ex-deputado federal e ex-presidente da Assembleia Marcelo Nilo (Republicanos), cuja determinação de concorrer enfrentando a mulher de um hoje ministro da Casa Civil tende apenas a crescer, principalmente no momento que o nome dela for posto a público. Para completar, a ideia já ganhou ampla publicidade negativa, merecendo, inclusive, um editorial crítico do jornal Folha de S. Paulo, que, de resto, acrescentou que o mesmo caminho já foi trilhado por dois outros ministros de Lula.

*Raul Monteiro é editor da coluna Raio Laser e do site Política Livre e escreve para a Tribuna da Bahia