”Não sou eu que estou dizendo. É Deus”, diz pastor acusado de homofobia por placa

Pastor Milton (Foto: Alexandre Lyrio/Correio
Pastor Milton. Foto: Reprodução/Alexandre Lyrio/Correio

Ele diz que Jean Wyllys é ”digno da misericórdia divina”, bota fé nas lutas de Bolsonaro e Magno Malta e faz cara de nojo ao narrar uma cena de novela em que viu ”dois homens se pegando”. ”Afff. Não sei como um homem é capaz de se pegar com o outro. Você gosta de homem?”, me perguntou o pastor Milton, que pendurou na fachada de sua igreja uma placa com uma inscrição considerada homofóbica por moradores de Porto Sauípe, distrito de Entre Rios, a 70 quilômetros de Salvador.  ”Em que sentido, pastor?”, retruquei. ”No sentido sexual mesmo”. ”Não, não, pastor. Eu gosto de mulher. Mas se gostasse de homem isso não faria a menor diferença”. Ontem, no final da tarde, a placa continuava lá. E, se depender dele, vai ficar ali por muito tempo. ”Não vou me intimidar. Não tem lei que tire essa placa daí. Conheço a constituição. Tenho direito à liberdade de expressão”, afirmou o líder religioso. Como mostra a foto, a placa cita trecho do livro de Levítico, capítulo 20, versículo 13, do Velho Testamento. ”Se um homem tiver relações com outro homem, os dois deverão ser mortos por causa desse ato nojento; Eles serão responsáveis pela sua própria morte”. O pastor nega que os dizeres incitem a violência, a homofobia ou incentivem a discriminação.”Não sou eu que estou dizendo. É Deus. Aí tem que pegar Deus e botar atrás das grades. Diante de Deus, o homossexualismo é pecado. Mas isso não quer dizer que os homossexuais têm que ser mortos. Eles precisam ser salvos. Ali é o ponto de vista de Deus”, diz o pastor. “Mas, o cidadão comum que lê isso aí não pode interpretar como um incentivo à homofobia?”, indaguei.

Pastor pendurou na fachada de sua igreja
Pastor Milton pendurou uma placa na fachada de sua igreja

”Não, não. Mais de 80% da nossa população é católica ou protestante. Todo mundo tem a Bíblia. Se fosse na época do Velho Testamento, era para ser morto mesmo. Apedrejado! Deus condena o homossexualismo, o lesbianismo”, repetiu várias vezes. ”Se naquela época era para ser apedrejado, hoje é para ser o que?”. ”Hoje é para ser salvo”, insistiu. ”Mas, de tantos escritos e livros da Bíblia, porque destacar este?”. ”Porque a coisa tá mudando muito rápido. Os programas de televisão incentivam. Para uma criança, um menino desse aí, isso é normal. Os gays tão morrendo tudo de Aids e ninguém faz nada”, disse o pastor, novamente demonstrando um semblante de nojo. “Falo assim porque quando eles morrerem vão paro o inferno. Eu quero que eles sejam salvos”. Milton França, 58 anos, é do bairro da liberdade, em Salvador, e mora há seis anos em Porto Sauípe. Ele fazia parte da Congregação Batista Bíblica Salém, que existe há 23 anos. Há um ano, decidiu abrir uma igreja independente e criou o Templo Bíblico Batista Salém. Além dessa placa, há outra que também foi fixada na frente do tempo religioso com a frase em tom de ameaça: ”Você é livre para fazer suas escolhas, mas não é livre para escolher as consequências”. Correio