O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira (26) que o presidente da Argentina, Javier Milei, deveria pedir desculpas pela quantidade de “bobagem” que disse sobre o brasileiro e condicionou uma conversa entre os dois a um pedido de desculpas.
Lula também disse que os condenados pelos ataques de 8 de janeiro que estão na Argentina não precisam necessariamente ser extraditados, mas que devem começar a cumprir pena no país vizinho.
Lula concedeu uma entrevista ao vivo nesta quarta-feira (26) ao portal UOL. O presidente afirmou que ainda não teve nenhuma conversa com Milei, que tomou posse em dezembro passado, e afirmou que o argentino precisaria primeiro se desculpar antes de manter uma relação mais próxima.
“Não conversei com o presidente da Argentina, porque acho que ele tem que pedir desculpas ao Brasil e a mim. Ele falou muita bobagem. Só quero que ele peça desculpas”, afirmou o presidente
“A Argentina é um país que eu gosto muito e é um país muito importante para o Brasil. E o Brasil é muito importante para a Argentina. Não é um presidente da República que vai criar uma cisão. O povo argentino e brasileiro é maior que os seus presidentes. E eles querem viver bem, viver em paz”, declarou.
Lula também afirmou durante a entrevista que seu governo está discutindo com os argentinos para que os brasileiros condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro e que se refugiaram na Argentina comecem a cumprir suas penas naquele país.
O Brasil enviou ao governo Milei uma lista com os nomes e documentos de 143 condenados pela invasão às sedes dos três Poderes que estavam foragidos. O objetivo era confirmar se essas pessoas estão na Argentina.
É possível que os números reais sejam maiores do que os listados pelo lado argentino, caso alguns dos foragidos tenham entrado ou saído do país por pontos da fronteira nos quais há pouco monitoramento.
Em resposta, a Argentina compartilhou na semana passada, após pedidos de Brasília, a lista dos foragidos do 8 de janeiro dos quais há registro de entrada no país. São cerca de 60 pessoas.
Buenos Aires também alertou que parte desse grupo —seriam cerca de dez indivíduos— já deixou o país. Não se sabe para qual região foram, uma vez que o registro migratório compartilhado com o Brasil contém apenas a informação de que houve saída do território argentino.
“Os que estão lá, você já tem uma parte condenada. Essa parte, tanto meu ministro [da Justiça, Ricardo] Lewandowski, quanto Andrei [Rodrigues] da Polícia Federal e mais o Mauro Vieira, do Itamaraty, estão discutindo para ver o seguinte: se os caras não quiserem vir, que eles sejam presos lá e fiquem presos na Argentina. Se não, venham para cá. Nós estamos tratando da forma mais diplomática possível”, afirmou o presidente.
A relação entre os governos brasileiro e argentino vive um processo de distanciamento, cujo principal simbolismo é a falta de uma conversa entre os presidentes dos dois países, tradicionais aliados regionais.
Os atritos entre Lula e Milei são antigos. Durante a corrida eleitoral argentina, Milei chegou a dizer em entrevistas que não se reuniria com Lula como chefe de Estado. Ele o chamou de comunista e corrupto e mencionou o tempo em que o brasileiro esteve na prisão.
O PT declarou apoio público ao adversário de Milei, o então “superministro da Economia” Sergio Massa, candidato do peronismo. Lula, em março passado, mencionou nominalmente Milei ao falar sobre o risco da democracia no Brasil e em outros países.
Em novembro de 2023, em passagem por Brasília, a então indicada a chanceler argentina, Diana Mondino, trouxe uma carta na qual Milei convidava Lula para sua posse, em 10 de dezembro. Lula não foi à cerimônia. Como seu representante, enviou Mauro Vieira.
Em abril, Mondino, já empossada na chefia da diplomacia argentina, voltou ao Brasil e trouxe uma nova carta de Milei a Lula na qual defendia a manutenção de uma boa relação bilateral entre os dois países. Tampouco houve avanço para um encontro bilateral.
Há pelo menos dois eventos internacionais neste ano em que Milei e Lula podem se encontrar, ao menos no contexto de cúpula com outros chefes de Estado. Uma é a reunião dos líderes do Mercosul, em julho, no Paraguai. A outra é o G20, em novembro, no Rio.