Mais de 271 cidades da Bahia têm água contaminada por agrotóxicos; Jaguaquara aparece na lista

Barragem do Baixão, em Jaguaquara. Foto: Blog Marcos Frahm

Testes realizados pelas empresas de abastecimento de municípios brasileiros mostram que quatro cidades da Bahia consomem um perigoso coquetel com 27 agrotóxicos encontrados na água utilizada pela população. Mucugê, na Chapada Diamantina, Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), Itapetinga, Centro Sul, e São Félix do Coribe, no Oeste, estão no topo de uma lista de 271 municípios baianos em que se encontrou pelo menos um agrotóxico na água que abastece as torneiras das cidades.  A publicação dos dados faz parte do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua) do Ministério da Saúde. O estudo detectou em 1.396 municípios no país todos os 27 pesticidas.

No caso de Mucugê, o número elevado de agrotóxicos na água pode ter relação direta com as plantações de batata, morango e tomate na região, conforme reportagem do Jornal Correio da Bahia. Moradores, biólogos, profissionais de saúde do município e até agricultores confirmam o problema e começam a ver os reflexos na população.

”Aqui tem fazendas grandes com plantações que consomem muito agrotóxico. Contamina solo, lençol freático, água para consumo residencial. A gente vê muita gente com alteração de hormônio, tireoide, muita gente hipertensa e diabética. É difícil comprovar que isso tem relação com o consumo da água, mas que se usa muito agrotóxico na região, com certeza”, disse um especialista na área de saúde de Mucugê, que preferiu não se identificar. O que assusta é a possibilidade de os males trazidos pelos agrotóxicos estarem agindo de forma silenciosa nas populações, sem que se saiba a origem do problema.

Vale do Jiquiriçá

Jaguaquara, maior município do Vale do Jiquiriçá e considerado um dos grandes produtores de hortifruti da Bahia também aparece na lista. Além de Jaguaquara, outras cidades da região, como Apuarema, Iramaia, Lafaiete Coutinho, Laje, Lajedo do Tabocal, Maracás, Planaltino, Amargosa e Wenceslau Guimarães também figuram na lista.

Dos 27 agrotóxicos encontrados pela pesquisa, 16 são classificados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como extremamente ou altamente tóxicos e 11 estão associados ao desenvolvimento de doenças crônicas como câncer, malformação fetal, disfunções hormonais e reprodutivas. Importante ressaltar que as quatro cidades: Mucugê, Camaçari, Itapetinga e São Félix do Coribe atingem o número máximo de agrotóxicos, mas há muitas outras com uma quantidade perigosa de químicos, como Macarani, também no Centro Sul, com 25 agrotóxicos, e até a própria Salvador, com 16 pesticidas.

Saúde em alerta
As intoxicações por agrotóxico, em casos graves, podem até gerar coma, parada cardíaca, hemorragia ou perda da visão. Na Bahia, o problema é tratado como uma questão de saúde pública, já que está entre os oito estados do Brasil em consumo do produto. Os defensivos agrícolas possuem diversos níveis de intoxicação, que podem variar de acordo com a quantidade do produto e tempo de exposição a ele.

O Ministério da Saúde alerta que os venenos podem entrar no corpo por meio de contato com a pele, mucosas, respiração ou ingestão. Os sintomas mais comuns logo após a exposição são mal-estar, dor de cabeça e cansaço. Nos casos mais graves, pode se identificar lesões de pele, tonturas, dificuldade respiratória, podendo ocorrer coma e morte.

Os agroquímicos também podem desenvolver problemas crônicos, que aparecem após algum tempo, como distúrbios como irritabilidade, ansiedade, alterações do sono e da atenção, depressão; dor de cabeça, cansaço, alergias de pele e respiratórias, problemas neurológicos e até alguns tipos de câncer.

Agronegócio questiona dados de contaminação 

A divulgação, nessa semana,  do resultado do estudo de contaminação de água por agrotóxicos pela Agência Pública, Repórter Brasil e organização Public Eye gerou questionamentos. Além das próprias empresas de tratamento de água desmentirem as informações ou falarem que elas são tendenciosas, associações do setor agrícola também foram contrárias aos dados apresentados. A Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), por exemplo, afirmou que os dados foram publicados ”de forma alarmista” com pesquisas ”absolutamente desconhecidas por autoridades nacionais e internacionais”. Leia na íntegra