”Há um acordo de que agora eu seria o candidato ao TCM”, afirma o deputado estadual Fabrício Falcão ao Bahia Notícias

O deputado comunista Fabrício Falcão iniciou seus primeiros passos na política em Vitória da Conquista, no sudoeste baiano, em 1995, quando participou ativamente na reconstrução do movimento estudantil. Em 1996, ele colaborou com a construção do projeto político que governou a cidade por 20 anos consecutivos, “tornando-a referência de gestão para todo o Brasil, a partir da vitória do então deputado Guilherme Menezes na disputa pela prefeitura municipal”. 

Entre 2004 e 2008, Falcão foi eleito e reeleito vereador tendo sido o segundo edil mais votado, com 5 mil votos. Em 2010, já na gestão de Jaques Wagner como governador da Bahia, foi eleito, pela primeira vez, deputado estadual com quase 20 mil votos somente em Conquista. Em 2014 e 2018, Fabrício Falcão foi reeleito deputado estadual, cenário que se repetiu em 2022 quando foi reconduzido para o quarto mandato no parlamento baiano. 

Nesta entrevista, Fabrício Falcão conta como estão as articulações para se manter na disputa ao cargo de conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), cuja inscrição está em vias de ser aberta pela Mesa Diretora da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) após o Carnaval. 

“Eu sempre nutri admiração pelo TCM. Defendendo, como parlamentar, sua manutenção como instrumento essencial para o aperfeiçoamento da administração pública municipal”, destacou o deputado, que tem formação em Gestão Pública. Confira a entrevista completa: 

O senhor é um deputado de 4º mandato e com uma trajetória política consolidada por ter sido vereador duas vezes em Vitória da Conquista. Como surgiu o desejo de ser conselheiro do TCM? Em que momento aconteceu essa virada de chave? 

Se a gente somar tudo, tenho seis mandatos consecutivos, contando os dois de vereador em Vitória da Conquista, cidade tão importante e que eu amo, e os quatro de deputado. Acho que agora posso dar a minha contribuição em uma outra área na qual também tenho experiência. Sou técnico em contabilidade e estudioso da área. Tenho conhecimento sobre o funcionamento e a gestão dos orçamentos públicos municipais. Antes mesmo de ser deputado, acompanhava e até assessorava prefeitos sobre prestação de contas, de modo que estou preparado para esse novo desafio para o qual já tenho me colocado há algum tempo. A função de conselheiro é técnica, de analisar contas das prefeituras, das câmaras de vereadores e também das empresas públicas municipais, mas a experiência política que tenho, e o relacionamento político construído ao longo da minha trajetória como homem público, também podem ajudar nas minhas decisões, a interpretar melhor os cenários e a agir de forma equilibrada.

Em 2021, o senhor retirou sua candidatura para apoiar o ex-deputado Nelson Pelegrino. Em 2023, novamente, o senhor se colocou na disputa, mas retrocedeu em favor da ex-primeira dama, Aline Peixoto. Em 2024, o senhor pretende retirar a sua candidatura para apoiar o deputado Paulo Rangel (PT) que, hoje, reúne mais condições?

Olha, eu tive uma conversa com o então governador Rui Costa (PT), que me chamou para dialogar e pediu que eu retirasse o meu nome em apoio ao então deputado federal Pelegrino, grande nome da política e hoje excelente conselheiro. Então, meu nome foi colocado para a próxima vaga. Mas aí veio a candidatura da senhora Aline Peixoto, e fui chamado novamente para sair da disputa. Tive uma conversa respeitosa com a senhora Aline, com o já ex-governador Rui Costa, e retirei o meu nome. Hoje, inclusive, tenho o orgulho de dizer que apoiei uma mulher que era íntegra e que tem feito um grande trabalho como conselheira, sendo elogiada por todos. Desta vez, pretendo manter a minha candidatura. Acho o deputado Paulo Rangel uma grande figura, um amigo querido. Mas há um acordo de que agora eu seria o candidato ao TCM. Se houver uma disputa, isso faz parte do jogo democrático, é salutar.

Esse acordo foi feito com o aval do governador Jerônimo Rodrigues (PT)? 

O governador, que tem sido uma liderança compreensiva, honrada e que tem buscado ajudar todos os partidos da base a crescer, sabe desse entendimento e dialogou com o PCdoB. Ele reconhece que o PCdoB, que, embora esteja ao lado desse projeto encabeçado pelo PT na Bahia desde 2006, ou seja, desde a primeira hora, nunca indicou nenhum filiado para uma das cortes de conta e que está na hora de isso ocorrer. Não servimos apenas para apoiar, mas também para ser apoiados, e o governador tem essa sensibilidade com todos da base. Mas se por acaso houver uma disputa com duas candidaturas da base, eu seguirei ao lado do governo, do governador, pois não sou um candidato contra ninguém. Será uma disputa no âmbito da Assembleia, a quem cabe fazer essa indicação ao tribunal. Aliás, o governador tem respeitado essa prerrogativa da Casa desde o início, demonstrando ser, mais uma vez, uma liderança com grande espírito público.

Existe alguma dívida do governo com o PCdoB, no quesito TCM? 

Quando eu retirei o meu nome em favor da senhora Aline, teve uma conversa do governador Jerônimo Rodrigues com o PCdoB, com o então presidente do partido na Bahia, Davidson Magalhães, e com outras pessoas da direção do partido. Ali, foi discutida a possibilidade de indicação do meu nome para essa vaga de agora, e o governador achou isso correto. Agora, estou lutando para isso de forma tranquila e serena e com a consciência tranquila de que a minha candidatura não afronta e nem desrespeita ninguém.

Embora o seu nome seja bem visto, inclusive por deputados da oposição, que não querem um nome do PT, de jeito nenhum, comenta-se que o senhor tem enfrentado dificuldade em recolher as 13 assinaturas para encaminhar sua inscrição. O senhor já tem os 13 apoios mínimos necessários? 

Olha, eu tenho três formas de ter a minha candidatura. A chancela do presidente da Assembleia, um amigo querido, que tem muito respeito e faz um grande trabalho, tanto que todos querem ele para a reeleição; da Mesa Diretora; ou de pelo menos 13 deputados da Casa. Então, eu acho que de uma das três formas eu serei inscrito, até porque tenho uma excelente relação com todos os parlamentares. Claro que não tenho a força do PT, que tem nove deputados, é um grande partido, aliado nosso, mas tenho condições sim de ser candidato e serei até o final, ouvindo sempre a todos, inclusive os deputados de oposição, respeitando a opinião de todos, do meu partido e do meu grupo político. Mas creio que também temos o carinho e o respeito de todos.

Caso não consiga as 13 assinaturas, estaria disposto a fazer algum acordo com o candidato da oposição, Marcelo Nilo, que já conseguiu 19? Inclusive, nós publicamos (reveja aqui) que ele estaria disposto a lhe “ceder” cinco, caso o senhor consiga apenas oito. 

Na verdade, eu não tenho que fazer acordo com o deputado Marcelo Nilo. Marcelo é um amigo querido, eu gosto de Marcelo, e posso sim conversar com ele. Foi presidente da Assembleia com o meu apoio. É uma figura extraordinária da política. Mas acredito que na busca do apoio dos deputados da oposição eu tenho que conversar primeiro, nesse sentido, com o líder da bancada, o deputado Alan Sanches (União). Trata-se de um parlamentar por quem tenho carinho e respeito. É um grande amigo, assim como também é o líder do governo, deputado Rosemberg Pinto (PT). Lembro que o novo conselheiro será escolhido por toda a Casa, pelos blocos, pelas bancadas, e deve dialogar com todos os deputados, ter uma boa relação com os parlamentares, respeitar e reconhecer a importância do TCM. Não é um momento de fazer disputa hegemônica, mas de dialogar.

Mês passado, nós também publicamos uma “queixa” interna dos deputados de que os partidos não estariam “dando bola” para o TCM (revela aqui). Segundo alguns deles, os próprios candidatos é quem estariam à frente das articulações. Na sua avaliação, faltou envolvimento do PCdoB em torno da sua candidatura? 

Não posso falar pelos outros partidos porque eu acho um desrespeito, mas no caso do PCdoB a legenda tem sim se envolvido e até dialogado com o governador sobre essa questão. Também fizemos um debate interno. Havia, inclusive, a pretensão do deputado federal Daniel Almeida, grande parlamentar, de ser candidato ao TCM, mas o partido decidiu pelo meu nome até porque o sentimento na Assembleia é de que o próximo conselheiro deve ser um deputado estadual. Temos tratado desse tema já há alguns anos, reconhecendo, claro, que o TCM é um órgão técnico, mas o processo que envolve a escolha do conselheiro é político.

O senhor está acostumado com o corpo a corpo, as viagens ao interior do Estado, muito disso por ter sido do movimento sindical. O senhor acha que vai se acostumar com o cargo de conselheiro que é, digamos, mais burocrático? 

Estou preparado, sim, para essa nova missão. Faço política desde os 17 anos, quando comecei no movimento estudantil secundarista e nas universidades. Também atuei como sindicalista, ajudando a fundar sindicatos em mais de 80 cidades da Bahia e a criar associações e cooperativas em mais de 100 municípios. Assessorei a Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag), lutando pelo fortalecimento da agricultura familiar. Fui vereador, hoje sou deputado. Agora, com os cabelos brancos, acho que posso ajudar a Bahia de outra forma, atuando no TCM para fortalecer o assessoramento técnico a prefeitos, câmaras municipais e empresas públicas municipais. Isso significa uma melhor destinação dos recursos públicos. Um dos pontos que pretendo defender no tribunal é este, o de aprimorar a qualificação técnica das prefeituras e legislativos municipais.

E como ficariam suas bases? Abriria um vácuo, para ser disputado por quem quisesse, ou o senhor tem herdeiros políticos?

Eu não tenho um herdeiro político, eu não tenho um pai na política. E nunca quis ter. Eu tenho amigos, prefeitos que me apoiam, lideranças. Então, claro, eu saindo da política, vou dialogar com os dez prefeitos que são meus aliados, com as muitas lideranças da base que caminham comigo. Desde cedo aprendi a construir e respeitar amizades. Desde menino, quando cheguei a passar fome e enfrentei enormes dificuldades, aprendi a valorizar os relacionamentos pessoais, e trouxe isso para a política. Foi assim que sempre agi também quando comecei a trabalhar vendendo jornal em banca de revista, depois na construção civil, e assim foi a minha vida inteira. Então, meus herdeiros são os amigos e amigas que construí ao longo dessa jornada.