Em dia de jogo do Brasil, com piora no exterior, dólar sobe 2% e fecha cotado a R$ 3,87

O Banco Central tentou segurar o dólar nesta quarta-feira, 27, mas não teve sucesso. Mesmo durante o jogo do Brasil na Copa da Rússia, a moeda chegou a renovar várias máximas, para fechar o dia em R$ 3,8737, alta de 1,99%, a maior cotação desde o dia 7 de junho, quando encerrou em R$ 3,9146. E depois de três altas consecutivas, com as quais havia subido 1,90%, o Ibovespa perdeu fôlego e cedeu ao movimento vendedor das bolsas de Nova York e à forte alta do dólar. O principal índice de ações da B3 chegou a subir 0,88% pela manhã, mas firmou-se em terreno negativo à tarde e fechou aos 70.609,00 pontos, com queda de 1,11%. O desempenho teria sido ainda pior, não fosse a valorização das ações da Petrobrás, que acompanharam as altas do petróleo no mercado internacional e amenizaram as perdas por aqui. Entre os principais países emergentes, o real teve o segundo pior desempenho ante o dólar, perdendo apenas para a moeda da África do Sul. Especialistas em câmbio citam, entre os principais fatores para explicar a alta da moeda dos Estados Unidos neste pregão, o cenário externo adverso, saída de recursos de estrangeiros do Brasil e ação de especuladores com os vencimentos dos swaps. O BC fez dois leilões de linha no dia, que é a venda de dólar no mercado à vista com compromisso de recompra, colocando um total de US$ 2,425 bilhões no mercado. Ao contrário do leilão feito na segunda-feira, que teve pouca demanda, o de hoje teve colocação quase integral do lote de US$ 2,5 bilhões ofertado. A ação do BC contribuiu para volume de negócios hoje acima da média, mesmo com o jogo do Brasil. O mercado à vista movimentou US$ 1,6 bilhão. Dados do Banco Central do fluxo cambial divulgados nesta quarta confirmam saída de capital externo pelo fluxo financeiro (que inclui as aplicações em bolsa e renda fixa). Entre os dias 18 e 22, foram retirados US$ 766 milhões em valores líquidos. Operadores começaram a notar a retirada dos recursos em meados da semana passada, quando as taxas do cupom cambial (juro em dólar) começaram a subir, um indicativo das retiradas. Para alguns profissionais do mercado, foi esse movimento que levou o BC a ofertar linha, o que não fazia desde março. O final deste mês é tanto encerramento de trimestre como de semestre, o que aumenta a demanda por dólar no mercado à vista para remessa de recursos ao exterior por empresas. Para o ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria Integrada, Gustavo Loyola, a atuação da autoridade monetária no câmbio está correta. “O importante para o BC é irrigar a liquidez no mercado de câmbio, mas sem também gerar muita previsibilidade”, ressalta ele. “As intervenções no mercado de câmbio têm sempre que deixar algum risco para quem tem posições, quer sejam compradas ou vendidas”. O sócio-diretor da corretora NGO, Sidnei Nehme, ressalta que os especuladores tencionavam levar o dólar a R$ 4,00 em determinados momentos, pois eles mesmos haviam tomado os swaps nas últimas semanas, pressionando as cotações para baixo nos leilões, entre R$ 3,70 e 3,75. Só tem 1º de agosto vencem US$ 14 bilhões em swap. Com a entrada em jogo dos leilões de linha, Sidnei Nehme ressalta que fica mais difícil esses movimentos especulativos terem impacto na formação da taxa de câmbio, embora esses agentes vão continuar tentando pressionar as cotações perto dos vencimentos dos swaps. “A nova estratégia do BC o faz retomar a influência na formação do preço do dólar”, escreve o diretor em relatório desta quarta. Leia mais no Estadão.