Corrupção: ”um ciclo vicioso”

Osvaldo Lyra

Qual é o problema, na visão de quem vive a política na Bahia e em Brasília, quando o assunto é a corrupção? O conceito que muitos defendem é que mensalinhos e petrolões são incentivados pela postura de uma parte da população que vê nos políticos a possibilidade de tirar algum dividendo pessoal. Como falei neste espaço, em artigo anterior, muita gente vive à espera de uma indicação para um cargo público, pedindo dinheiro a prefeitos e parlamentes para pagar suas contas de água ou luz atrasadas, pedindo patrocínios para os babas e campeonatos de futebol nos finais de semana. Tem ainda o dinheiro para as festas do dia das mães, dia dos pais, dia das crianças… Ou seja, uma infinidade de demandas que se esbarram num ponto crucial: como arcar essa conta? Quem paga essa fatura? Aí, caros leitores, é aonde mora o problema.

Pressionados pelas demandas de suas bases e com contas altíssimas de campanha, muitos dos senhores políticos se lançam no mar nebuloso de corruptos e corruptores. Ao invés de receber doações milionárias no período da campanha, muitos optam por “parcelar” esses “investimentos” ao longo do mandato. Dai vem contratos viciados para beneficiar algumas dúzias de políticos que se alimentam (enriquecem) e retroalimentam o hábito de dar dinheiro e benesses a seus eleitores.

O que se diz em Brasília é que o político se elege pressionado por uma demanda clientelista em seu gabinete, que o leva a praticar malfeitos. No entanto, verdade seja dita, além desse ciclo vicioso que muitos se veem levados a entrar, tem a questão da índole e do espírito mesquinho que leva muitos a se locupletarem, metendo assim a mão no nosso dinheiro público. Dinheiro esse que é tirado de todos nós, que pagamos impostos, já que somos vítimas de uma carga tributária escorchante.

Outro ponto que também não é falado publicamente, mas deveria, é por que existe tanto interesse de parlamentares na liberação de emendas/ Como explicaram outros dois observadores da cena política de Brasília, é para direcionar obras e benfeitorias para suas bases, quando muitos aproveitam para se aproximar de seus apadrinhados nos interiores para viciar licitações e alimentar os esquemas de corrupção, com seus mensalões e mensalinhos.

Um dos procuradores da Operação Lava Jato disse nos últimos dias que as investigações estão apenas começando. Além da Petrobras, o juiz Sergio Moro e sua equipe dão sinais de que farão uma devassa em contratos e esquemas na Caixa Econômica Federal, Ministério da Saúde, BNDES…

O detalhe, alertado por outro político com mandato é que os juízes federais do Paraná estão trabalhando em cima dos efeitos. O que a sociedade precisa agora é exigir que se descortinem as causas. Temos que nos indignarmos e pressionarmos a classe política a encontrar uma nova forma de fazer política, sobretudo, com menos clientelismo e mais zelo com a coisa pública. Precisamos, todos nós, de mais educação e mais consciência cidadã. Até porque, não adianta nada ir para as ruas em julho de 2013 e eleger e reeleger em outubro de 2014 muitos dos senhores corruptos. Talvez seja a hora de o país ser realmente passado a limpo. Que venham dias melhores para nossa população.

Por Osvaldo Lyra