Bolsonaro aglomera apoiadores ao lado de Pazuello e, sem máscara, critica isolamento

Bolsonaro aparece com Eduardo Pazuello. Foto: Wilton Júnior/Estadão

Acompanhado pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, e por pelo menos mais dez apoiadores – todos eles sem máscaras e sobre um carro de som apertado – o presidente Jair Bolsonaro discursou no fim da manhã deste domingo (23), para milhares de apoiadores no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. Ele voltou a criticar prefeitos e governadores que decretaram confinamento durante a pandemia e afirmou que jamais colocará o Exército, que chamou de seu, nas ruas para fazer lockdown.

”Eu lamento cada morte no Brasil, não importa a motivação da mesma. Mas nós temos que ser fortes, temos que viver e sobreviver”, disse Bolsonaro, para depois criticar medidas de distanciamento social.

”Desde o começo eu disse que tínhamos dois grandes problemas: o vírus e o desemprego. Muitos governadores e prefeitos simplesmente ignoraram a grande maioria do povo brasileiro, e sem qualquer comprovação científica, decretaram lockdown, confinamento e toque de recolher”, afirmou o presidente. Estudos já mostraram, contudo, que o lockdown diminui a chance de transmissão do coronavírus.

”Fique bem claro: o meu Exército Brasileiro jamais irá às ruas pra manter vocês dentro de casa”, prosseguiu o presidente, descartando a hipótese de em algum momento decretar medidas de isolamento.

A fala de poucos minutos encerrou um passeio de moto que percorreu diversos bairros do Rio. A manifestação teve concentração no Parque Olímpico da Barra desde o início da manhã. Entre os milhares de apoiadores, apenas uma minoria usou máscaras de proteção – e, claro, o distanciamento não foi possível.

Esta foi a segunda vez no mês em que Bolsonaro participou de um desfile de motocicleta – o primeiro foi em 9 de maio, em Brasília.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, classificou o passeio de moto do presidente e apoiadores de ”espetáculo de covarde omissão”, em tweet publicado na manhã deste domingo.

Na nota, Santa Cruz afirma que, mais uma vez, ”o presidente celebrará a irresponsabilidade e a estupidez miliciana, passeando de moto com seus adoradores”. E ainda: ”Previsível espetáculo de covarde omissão que ignora hospitais lotados e a nova cepa indiana. Pobre do Brasil, pobre do meu Rio de Janeiro”.

Pazuello participa de ato e discursa sem máscara

Com a máscara no queixo, Pazuello passou no meio da multidão de apoiadores e subiu no carro de som onde estava o presidente sem máscara também. Um sorridente Pazuello acenou para os manifestantes ao lado de Bolsonaro. O presidente chamou seu ex-ministro de ”nosso gordinho”.

O ex-ministro depôs na quarta e na quinta-feira na CPI da Covid. No depoimento, ao ser questionado sobre ter aparecido sem máscara em um shopping em Manaus, o ex-ministro admitiu o erro e pediu desculpas. No evento desta manhã, no entanto, não houve essa preocupação.

Agravamento da pandemia

O ato ocorreu mesmo num período em que surge o temor de uma nova alta na transmissão do coronavírus. A Secretaria de Estado de Saúde do Rio (SES) informou que registrou, até este sábado, 839.623 casos confirmados e 49.438 óbitos por coronavírus no estado. Nas últimas 24 horas, foram contabilizados 2.122 novos casos e 188 mortes. A taxa de letalidade da covid-19 no Rio está em 5,89%, a maior do País. Entre os casos confirmados, 776.109 pacientes se recuperaram da doença.

Segundo o painel de dados desenvolvido pela pasta, a taxa de ocupação de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) para a covid-19 no estado é de 84,0%. Já a taxa de ocupação nos leitos de enfermaria é de 59,9%. No momento, a fila de espera por um leito de UTI tem 60 pessoas e a de enfermaria, 14.

*Estadão Conteúdo