A Bolsa fechou em alta e o dólar em queda nesta quinta-feira (16), seguindo a tendência vista nos mercados americano e europeu. A ajuda ao Credit Suisse, anunciada na noite de quarta-feira (15), e à tarde, a confirmação do auxílio de grandes bancos americanos ao First Republic Bank serviram para injetar otimismo no mercado.
O Ibovespa fechou o dia em alta de 0,73%, a 103.433 pontos. O dólar comercial à vista encerrou com queda de 1,05%, a R$ 5,238, depois de bater na cotação de R$ 5,31 no começo do pregão.
No mercado de juros, as taxas tiveram altas moderadas, com os investidores reagindo à decisão do BCE (Banco Central Europeu) de aumentar em 0,50 ponto os juros na Zona do Euro. Se esperava que as autoridades monetárias de Estados Unidos e Europa pudessem aliviar a tendência de aperto da política monetária com a crise bancária, mas isso não se confirmou.
Nos contratos com vencimento para janeiro de 2024, a taxa avançou dos 12,96% ao ano no fechamento desta quarta-feira para 13,03%. Para janeiro de 2025, os juros subiram de 12,07% para 12,16%. No vencimento de janeiro de 2027, a taxa avançou de 12,52% para 12,58%.
A ação do Credit Suisse, negociada na Bolsa de Zurique, chegou a subir mais de 40% no começo do dia, mas fechou em alta de 19,15%. O banco anunciou nesta quarta que irá tomar emprestado cerca de US$ 54 bilhões (50 bilhões de francos suíços, ou R$ 284 bilhões) do Swiss National Bank (SNB, o banco central da Suíça), em uma medida que chamou de “ação decisiva” para fortalecer sua liquidez.
Na tarde desta quinta-feira, a agência Bloomberg noticiou que tanto o Credit Suisse quanto seu maior concorrente na Suíça, o UBS, são contra uma fusão combinada entre os dois bancos. Segundo as informações, o UBS está resistente em assumir os riscos da operação do rival.
Nos Estados Unidos, a ajuda para um banco de médio porte em dificuldade vem do próprio setor. Segundo informações do The Wall Street Journal, um grupo de 11 grandes instituições do país depositaram um total de US$ 30 bilhões no First Republic Bank. A operação foi confirmada pelas autoridades econômicas do país, incluindo o Fed (Federal Reserve, o banco central americano).
Este movimento de salvação dos bancos no exterior ajudou os principais índices de ações globais nesta quinta. Em Nova York, o Dow Jones fechou em alta de 1,17. O S&P 500 avançou 1,76%, e o Nasdaq subiu 2,48%.
Na Europa, o índice Euro Stoxx 600 fechou o dia em alta de 1,19%. O FTSE 100, em Londres, teve avanço de 0,89%. Em Paris, o índice CAC 40 subiu 2,03%, e em Frankfurt, na Alemanha, o DAX fechou o dia com ganhos de 1,57%.
Até mesmo o aumento de juros pelo BCE ajudou a tranquilizar o clima entre os investidores na Europa. “Um nível de juros moderadamente mais alto é positivo para as ações na Europa, já que os preços não estão tão caros quanto nos Estados Unidos”, afirma Lilia Peytavin, estrategista de ações na Europa do Goldman Sachs, em entrevista à agência Bloomberg.
Segundo análise também para a Bloomberg de Guillermo Hernandez Sampere, chefe de operações da MMPH, seria difícil para o BCE mudar a rota dos juros sem perder credibilidade.
No Brasil, continua a expectativa pela divulgação do novo arcabouço fiscal. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), elogiou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com quem teve um jantar nesta quarta-feira sobre o arcabouço fiscal e a reforma tributária. ”O ministro conta com a simpatia dos líderes da Câmara, com a boa vontade em ouvi-lo e prestigiá-lo”, disse.
O objetivo do ministro é que a proposta para as novas regras fiscais se tornem públicas antes da próxima reunião do BC (Banco Central) sobre juros, que termina na próxima quarta-feira (22).
”A pressa de Haddad em divulgar o arcabouço antes da reunião do Copom expressa, além da intenção em influenciar o colegiado para antecipar o ciclo de corte de juros, uma aparente disputa subjacente com o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa”, afirma a Levante Investimentos, em relatório.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já sinalizou que vai divulgar o novo arcabouço fiscal antes de sua viagem para a China, marcada para o dia 24.
”Os juros futuros acompanharam a elevação nos retornos dos títulos americanos, com a consolidação da expectativa de que o Fed aumentará os juros em 0,25 ponto, depois da decisão do BCE. Mesmo diante das incertezas sobre o setor bancário”, afirma Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.
Mesmo assim, as altas moderadas das taxas futuras nesta quinta reforçam a expectativa de que a Selic comece a baixar nos próximos meses. ”A curva de juros já indica uma taxa abaixo de 12% já no final de 2023. Isso ajuda as ações de empresas que dependem da demanda doméstica”, diz André Fernandes, Head de Renda Variável e sócio da A7 Capital. Ele destacou o papel ordinário da Locaweb, que hoje subiu 12%.
Nishimura destaca ainda, no mercado local, o desempenho das ações das produtoras de proteína animal. As ações ordinárias da JBS e da Marfrig subiram mais de 3%, enquanto a Minerva fechou com alta pouco acima de 2%.
”Os papéis se beneficiaram do noticiário sobre novos casos de febre suína africana na China. Isso pode beneficiar as exportações brasileiras, com melhora nos preços e no volume”, diz o economista da Nomos.