Em agosto, o Conselho Federal de Medicina (CFM) vai passar por uma eleição para escolher seus membros e presidente. A proximidade do pleito tem esquentado cada vez mais as reclamações e denúncias de grupos de médicos sobre partidarização e aparelhamento político da instituição que tem protagonizado decisões e episódios controversos.
Nesta sexta-feira (19), o tema foi inclusive assunto no editorial do jornal O Globo, que apontou que bolsonaristas passaram a atuar na eleição de 54 novos conselheiros do CFM, após uma sequência de posicionamentos e decisões da entidade ”pautadas pelo conservadorismo”. Entre os candidatos está o relator da resolução do conselho que tentou proibir a ”assistolia fetal”, método usado nos casos de aborto legal após as 22ª semanas de gestação. Na prática, a entidade estabelecia um limite para o aborto, o que não constava na legislação brasileira, por isso o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, acabou suspendendo a determinação.
”Entidades profissionais costumam ter forte traço de corporativismo, mas isso não deveria impedi-las de realizar um trabalho técnico sério, com base nos conhecimentos científicos em suas respectivas áreas. Infelizmente não tem sido o caso do Conselho Federal de Medicina (CFM), cuja atuação tem sido condicionada pela polarização ideológica e pelas guerras culturais, afastando a grande maioria dos médicos, que trata de exercer a profissão independentemente de quem esteja no poder em Brasília”, iniciou o texto do O Globo.
O alerta acendeu para boa parte da categoria já em 2020, quando o CFM avalizou a prescrição de cloroquina e hidroxicloroquina para pacientes com Covid-19, desde que eles ou seus responsáveis fossem informados. Isso aconteceu logo após o então presidente Jair Bolsonaro ter defendido a cloroquina e o chamado Kit Covid, um conjunto de drogas cuja eficácia não havia comprovação ou base científica.
Esse não é o único indício apontado por médico para a politização da gestão do conselho. Uma pesquisa online que queria avaliar a opinião da categoria sobre a obrigatoriedade da vacinação contra a Covid-19 em crianças também gerou incômodo na classe, que apontou uma conduta negacionista da entidade médica e um aparelhamento com os posicionamentos do ex-presidente, que também era crítico da vacina. Há ainda indícios mais antigos, como uma publicação no site do conselho em 2018, com o atual presidente, José Gallo, celebrando a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições gerais daquele ano.