Um estudo da Universidade Zhejiang, na China, apontou que o formato de vídeos curtos explorado pelo aplicativo TikTok faz sucesso junto ao público jovem por um motivo em especial: a ativação de áreas do cérebro ligadas ao sistema de recompensa.
Publicado na revista científica NeuroImage, o levantamento, que utilizou de exames de ressonância magnética cerebral em 30 participantes. Foram exibidos dois tipos de conteúdo, vídeos personalizados pelo algoritmo do TikTok e os genéricos, mostrados para os novos usuários do app.
De acordo com o jornal O Globo, os pesquisadores descobriram que, entre as partes do cérebro ativadas apenas pelos conteúdos personalizados está a área tegmental ventral (ATV), um dos principais centros dopaminérgicos do órgão e considerado o início do circuito de recompensa. Durante as sessões de vídeos, a dopamina é liberada, provocando a sensação de prazer.
”Então, quando o jovem está assistindo a um vídeo no TikTok, o cérebro dele recebe uma enxurrada de dopamina que faz com que ele se sinta feliz, alegre, satisfeito. O problema é que, quanto mais dopamina o cérebro recebe, mais ele quer, aí ele acaba entrando em um estágio de saturação em que essas ‘doses’ vão precisar ser cada vez maiores”, explica a psicóloga especialista em criança e adolescente Manuela Santo, pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Psicologia Comunitária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
A dopamina leva o jovem a não se desprender da plataforma. Isso é o que explica a neurologista Letícia Sampaio, coordenadora do departamento científico de Neurologia Infantil da Associação Brasileira de Neurologia (ABN). ”Quando você pega um vídeo e consegue essa sensação de prazer de forma mais rápida, você vai tender a repetir esse comportamento em detrimento de outros que demandem mais atenção, que a recompensa demore mais para chegar”, afirma a especialista.
Outro estudo relacionado com o TikTok, desta vez conduzido pela Universidade Zhejiangem parceria com a universidade Texas A&M, nos Estados Unidos, levantou os motivos que levavam 1.051 jovens a utilizar a rede. Dentre 36 opções, entre ”passar o tempo” ou ”ficar mais feliz”, a ”auto-apresentação socialmente”, ”tendência”, ”vício escapista” e ”novidade” despontaram como as mais escolhidas.
Estudos de empresas de consultoria indicam ainda que a experiência individualizada e a personalização dos vídeos mostrados são outros atributos da rede, que tem o Brasil como o segundo país com o maior número de downloads.
Para Ilana Pinsky, autora do livro ”Saúde emocional: como não pirar em tempos instáveis” (Editora Contexto) e consultora da Organização Mundial da Saúde (OMS), a forma como o aplicativo atua estabelece no cérebro do jovem uma ideia de que a vida é simples e acelerada – como nos vídeos – o que pode atrapalhar no desenvolvimento especialmente daqueles que já têm uma tendência a serem mais introvertidos e evitarem interações com outras pessoas.
“Para alguém que já tem uma dificuldade social, timidez excessiva, baixa autoestima, ainda mais nesse período em que os jovens tiveram de ficar em casa por causa da pandemia, é muito mais fácil a pessoa sentar e ficar horas no TikTok substituindo o relacionamento social, que a longo prazo seria mais interessante, mas a curto prazo dá mais trabalho”, afirma a psicóloga clínica.
Manuela, da UFRGS, ressalta também que a infância e a adolescência são períodos em que o cérebro ainda está em formação, e por isso estão mais vulneráveis aos impactos negativos das redes sociais. ”O processo de formação cerebral só termina por volta dos 25 anos de idade, e especificamente as partes do cérebro responsáveis pelo controle de impulsos, pela auto-regulação, são umas das últimas a serem amadurecidas”, diz a pesquisadora, que propõe um equilíbrio no uso do TikTok.