Em balanço de 300 dias, governo infla medidas, usa dados incorretos e faz panfleto ideológico

Bolsonaro faz balanço do seu governo. Foto: Alan Santos

Na celebração dos 300 dias da gestão de Jair Bolsonaro (PSL), o governo divulgou um balanço que apresenta, entre as medidas, ações superdimensionadas, informações que divergem de dados divulgados por órgãos oficiais e trechos com abordagem ideológica. A cerimônia reuniu autoridades no Palácio do Planalto, na terça-feira (5), para discurso de Bolsonaro e assinatura de projetos.

No evento, a Presidência distribuiu à imprensa um documento intitulado “300 Dias Recuperando a Confiança”. Logo na abertura do balanço, a equipe de Bolsonaro afirma que “os escândalos de corrupção sumiram do Palácio do Planalto e dos noticiários”. Desde o início do governo, os aliados do presidente e um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), são alvo de investigações sobre ilegalidades.

Em outubro, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, foi denunciado à Justiça por caixa dois eleitoral, apropriação indébita de recursos e associação criminosa. A investigação do caso, revelado pela Folha, apontou ser ele o chefe de um esquema de candidaturas de laranjas no PSL, partido de Bolsonaro. O presidente decidiu mantê-lo no cargo.

Em fevereiro, o secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno, foi demitido por envolvimento no mesmo escândalo.

Flávio foi apontado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como possível envolvido em um esquema de “rachadinha”, desvio de parte dos salários de servidores de seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio. A investigação está suspensa por ordem do Supremo Tribunal Federal.

Na área ambiental, o levantamento sustenta ter havido “redução das queimadas no Brasil entre janeiro e agosto”. O documento não apresenta nenhum número. Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), órgão federal que faz esse tipo de monitoramento, mostram o contrário. Relatório do Programa Queimadas, mantido pelo instituto, diz que o aumento no número de focos foi de 71% e é, “sem dúvida, expressivo”.

Para a diretora de Ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Ane Alencar, a postura do governo na área ambiental, ao questionar dados oficiais e denunciar uma suposta indústria de multas, contribuiu para o problema. “Isso tudo leva o produtor e o grileiro a achar que está liberado [para desmatar].” Folha de S.Paulo