Criada em 2014, a UFSB (Universidade Federal do Sul da Bahia) subiu na lista geral do RUF (Ranking Universitário Folha) por dois anos consecutivos e chegou, em 2019, à 167ª posição. Agora, essa trajetória de crescimento pode ser interrompida por causa do bloqueio no seu orçamento imposto pelo Ministério da Educação, o maior entre as instituições federais. Mais da metade da verba (54%) que seria usada para custeio (contas gerais e materiais) e investimentos (obras e equipamentos) ficou retido, segundo dados da instituição. São R$ 17 milhões, ao todo.
O principal impacto foi a paralisação, em julho, da construção do novo campus Jorge Amado, em Ilhéus (a 310 km de Salvador e a 30 km de Itabuna, onde fica a reitoria). A expansão das instalações dos outros dois campi, nas cidades de Porto Seguro e Teixeira de Freitas, também parou. A dívida da instituição, só com as obras, é R$ 6,2 milhões. O ambiente é de extrema incerteza, segundo Franklin Matos, diretor de planejamento. Procurado, o MEC disse ter liberado, na última segunda (30), R$ 1,15 bilhão para as universidades, acrescentando que não “possui ingerência sobre os processos de pagamentos que estejam a cargo de suas unidades vinculadas”.
O revés é mais sentido do que em outras federais porque, além de ser muito nova, a UFSB nasceu sem uma estrutura física pronta. Até hoje, vive de puxadinhos. “A universidade não é lugar-comum, está aquém do lugar-comum. Precisava ter um tratamento diferenciado e, definitivamente, não tem”, afirma Rogério Quintella, pró-reitor de pesquisa e pós-graduação. Enquanto as obras em Ilhéus não são concluídas, o campus Jorge Amado funciona num galpão adaptado, a 10 km do centro de Itabuna. Na biblioteca, há cinco mesas de leitura e pouco mais de dez prateleiras. Livros ficam guardados em caixas.
A estrutura improvisada abriga 1.006 alunos de engenharia (florestal; agrícola e ambiental; e ambiental e da sustentabilidade) e também do chamado primeiro ciclo. A graduação na UFSB é dividida em duas etapas. Na primeira, o estudante tem uma formação geral, em artes, ciências, humanidade ou saúde. A segunda, onde entram as engenharias e outros cursos, é um bacharelado. Em Porto Seguro (a 276 km de Itabuna), são 1.028 estudantes, nos cursos de biologia, oceanologia e direito, entre outros; em Teixeira de Freitas (a 374 km da sede), são 999, em medicina e psicologia.
A reitoria e a administração funcionam em um edifício vizinho, alugado. Por lá, cartazes nas paredes exibem um pedido: “Deixe-nos crescer”. Com 18 salas e seis laboratórios, para 5.000 alunos, o campus em Ilhéus seria a resposta para essa demanda. Antes do bloqueio, a inauguração estava prevista para o primeiro semestre do próximo ano. A reportagem esteve no edifício, localizado em terreno da Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira), instituição ligada ao Ministério da Agricultura que já foi líder em pesquisas sobre cacau na América Latina.
A área, quase inteiramente ocupada por vegetação, tem ao todo 700 hectares, dos quais 37 foram doados à UFSB. Os banheiros já têm pias e vasos, e o piso tátil para deficientes visuais foi instalado. No teto, as estruturas que receberão painéis fotovoltaicos para a captação de energia solar também estão prontas. Outro prédio, ao lado, projetado para abrigar o setor administrativo e salas de professores, ficou só no esqueleto. Em pouco mais de três meses de obras paradas, a natureza ao redor já fez estragos. “Os animais vão tomando conta”, diz Lívia Sanjuan Farias, diretora de Infraestrutura. Por dentro, há fezes de morcego por todos os lados. A chuva causou infiltrações e ferrugem em algumas estruturas.