Ele era sobretudo um mineiro de coração enorme. No meio século em que o conheci desde que cheguei a Minas na década de 50, Toninho Drummond foi um jornalista exemplar. Bom colega, bom amigo. Durante 25 anos dirigiu a sucursal da TV Globo em Brasília. Para defini-lo bastaria dizer que estava sempre a serviço do bem.
Suas historias políticas são dezenas.
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Quando Geisel foi ao Japão conhecer os tataravós de Shigeaki Ueki, levaram-no a Kioto para ver um hotel experimental, sem empregados, todo comandado por computador. Você chega, recebe umas chaves, um número do computador, vai enfiando as chaves no seu numero e as coisas vão acontecendo: o telefone chama na hora marcada, o café vem, o almoço é servido, tudo automaticamente.
Na comitiva de Geisel, estavam Pedro Gomes, Blota Júnior, Toninho Drummond, Costa Manso, Carlos Henrique, Haroldo Holanda e Adirson de Barros. De noite, Adirson e Haroldo pegaram as chaves de Pedro Gomes e marcaram para acordar de meia em meia hora, para servir café de hora em hora etc.
No dia seguinte, de manhã cedo, apareceu Pedro Gomes exausto, indormido, olheiras fundas.
- O que houve, Pedro?
- Esse negócio de tecnologia, computador é tudo uma loucura. O
telefone me chamou de meia em meia hora, levaram café de hora em hora. São uns malucos. Prefiro o Copacabana Palace.
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Toninho Drummond, vendo o último livro do deputado Rubem Medina (PDS do Rio), “Um Atalho para o amanhecer”:
- Alkmin falava sempre: gosto muito de uma coisa lá de
Bocaiuva que diz que se atalho fosse bom não existia a volta.
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Toninho Drummond tocou a campainha do Hotel Financial, em Belo Horizonte, onde Benedito Valadares ficava, quando em Minas. Benedito apareceu de pijama, os cabelos despenteados:
- Il, meu filho, você outra vez? Não tenho nada a falar.
- Senador, por que o senhor tem esse horror de falar?
- É uma história antiga, meu filho. Eu era menino em Pará de
Minas. Tinha uma Festa do Divino e uma quermesse com leilão. Estavam rifando um canarinho na gaiola. Todo mundo fazendo lances. Eu fiquei ali espiando. O canarinho era uma beleza. A gaiola também. O leiloeiro gritava: Quem dá mais? Dou-lhe uma, dou-lhe duas …
Alguém cobria o lance anterior, começava tudo de novo: Quem dá mais? Quem dá mais? Dou-lhe uma, dou-lhe duas…
Não aguentei, também falei: 600 mil-réis.
O leiloeiro ficou entusiasmado com meu lance, gritou rápido. Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três. Menino, o canarinho é seu!
Eu não tinha um tostão no bolso, fui para casa chorando. Nunca mais falei.
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Toninho Drummond viajava com Magalhães Pinto pelo interior de Minas, na campanha eleitoral para governador, em 1961. Magalhães chegava a Santo Antonio do Monte, começava o discurso:
- Esta é a minha cidade. Aqui…
Descia em Lima Duarte:
- Esta é a minha cidade. Aqui…
Parava em Formiga:
- Esta é a minha cidade. Aqui…
Entrava carregado em Juiz de Fora:
- Esta é a minha cidade. Aqui…
Toninho não entendeu:
- Magalhães, de que cidade afinal o senhor é?
- Depois da campanha eu lhe conto, meu filho.
E foi para Belo Horizonte, ”sua cidade”.
POR SEBASTIÃO NERY