Um discurso feito pelo deputado estadual Targino Machado, do DEM, no plenário da Assembleia Legislativa, na última semana, passou despercebido pela maioria dos deputados estaduais e pela grande imprensa da Bahia. Polêmico, Targino foi enfático ao afirmar que o melhor caminho para se modificar o quadro político do país, atolado em um dos maiores escândalos de corrupção já vistos (o Petrolão), é o investimento na educação. Segundo o democrata, a Operação Lava Jato, que desencadeou uma crise sem precedentes na Petrobras, “é fruto da falta de responsabilidade dos brasileiros para com os seus votos”.
Na verdade, o lúcido raciocínio do deputado, que tem base em Feira de Santana, nos chama a fazer uma reflexão, sobretudo, às vésperas das manifestações que prometem abalar as estruturas do Planalto e de todo o país. O fato é que Targino tornou público o que todo mundo já sabia: as campanhas eleitorais se estabelecem em um verdadeiro toma lá da cá, envolvendo políticos e setores da população. A explicação do deputado é que “os eleitores ladrões elegem políticos ladrões. É a velha história: roubem, mas deem o meu. Esse é o sentimento da população. Depois da eleição, vêm reclamar. Reclamar de quê? Você recebeu a sua ‘teteia’ pra votar. Por que um deputado que comprou os votos em um município vai voltar neste lugar? Qual a obrigação que ele deve aos eleitores daquele município que eles foram votados? É uma relação de troca. Um recebeu o voto e o outro entregou o dinheiro”.
O detalhe é que o roubo começou a ser institucionalizado sob a alegação de que se precisava de dinheiro para investir na relação com o próprio eleitor. São pedidos de apoio para caminhadas, para festas nas comunidades, para a cerveja gelada e para o baba do final de semana. Mas tem que apoiar também os eventos do Dia dos Pais, do Dia das Mães, Dia das Crianças, ou dar dinheiro para pagar contas atrasadas ou para a construção de escadarias, recuperação de praças e ruas. O eleitor, por mais que não se fale no assunto, é um sujeito oculto nesse processo de usurpação do dinheiro público no país. Isso porque o político rouba, recebe seu mensalinho para pagar seus gastos de campanha e retroalimentar essas inúmeras demandas que batem à sua porta, dia após dia. Com isso, corruptos e corruptores criam uma rede que parece não ter fim.
O próprio delator do Petrolão, Paulo Roberto Costa, diz que não existem doações para campanhas políticas no Brasil, mas, sim, “empréstimos que são cobrados a juros altos de quem recebeu os recursos para se eleger”. Costa enfatiza em sua delação que só se declara um terço do valor gasto nas campanhas, ou seja, o necessário e possível de ser declarado, o que inclui material de propaganda impresso, rádio e televisão. O resto é caixa 2, com dinheiro ilícito não declarado, que serve, inclusive, para acalentar o bolso de muitos eleitores e líderes comunitários. Isso porque, na hora de votar não se vota da mesma forma que se cobra que seja a política. Muitos daqueles que vão para as ruas protestar votam em branco ou nulo, enquanto a turma silenciosa, que elege nos grotões, vota no clientelismo e no fisiologismo.
Mas, voltando ao discurso do deputado Targino Machado, ele diz ainda que a culpa não está somente na política, mas, sim, na origem. “A base da pirâmide está no povo. Ou se investe em educação neste país, ou continuaremos neste desfile de corrupção. No Brasil não se investe em educação de forma séria, pois quanto mais mal-educado o povo, mais fácil de ser manobrado”. O que se espera é que seja iniciado um processo de mudança, onde a população aprenda a ter cada vez mais consciência cidadã.
*Por Osvaldo Lyra