Jéssica Paulo do Nascimento, de 28 anos, foi exonerada da Polícia Militar de SP nesta quarta-feira (26), após decidir deixar a carreira. A soldado tomou a decisão um mês depois de denunciar um tenente por assédio sexual e ameaças de morte e estupro.
A mulher contou que tomou a decisão após sofrer pressão de seus colegas e dos superiores, justamente devido à repercussão do caso. ”Pensei que denunciando eu teria alguma paz, mas foi diferente. Sofri uma pressão muito difícil”, declarou em entrevista ao G1.
Jéssica relatou ter sido perseguida na corporação. Ela contou que foi desarmada, escalada para trabalhos na rua à noite mesmo denunciando ameaças de morte, recebeu negativas para pedidos de transferência e foi chantageada sobre as férias às quais teria direito.
”Foi uma decisão difícil. Eu saí do meu estado, Rio de Janeiro, para realizar esse sonho em São Paulo. Logo agora que tomei coragem para expor o que passava, não tive mais paz”, disse.
A soldado revelou ter recebido advertências internas por dar entrevistas sobre a denúncia e que pediu afastamento por abalo psicológico, mas foi informada pelo médico da Polícia Militar que ”só lhe daria alguns dias se o comandante dela autorizasse”.
”Foi a melhor decisão a ser tomada”, considerou. ”Saio com ótimo comportamento, não respondendo a processos. Se eu ficasse, eu iria tomar advertência atrás de advertência e seria expulsa, manchando minha reputação.”
Relembre o caso
Jéssica denunciou em abril o tenente-coronel Cássio Novaes, que foi afastado enquanto a investigação é conduzida pela Corregedoria da PM. Ele atuava na capital paulista enquanto Jéssica está atualmente lotada no 45° Batalhão da Polícia Militar do Interior (BPM/I), em Praia Grande, no litoral de São Paulo.
De acordo com a soldado, em 2018, quando Novaes assumiu o comando do Batalhão da Zona Sul de SP, ele passou pelas companhias para se apresentar aos policiais. Após conhecê-la, o tenente-coronel teria convidado Jéssica para sair na primeira oportunidade em que se viu sozinho com ela.
Ela disse ao superior que era casada e tinha filhos, recusando o convite. ”Depois desse dia, minha vida virou um inferno”, desabafa a soldado, que relatou a humilhação em frente aos seus colegas e até sabotagem por parte de Novaes.
Soldado chegou a afastar-se
Jéssica ficou dois anos e meio afastada do serviço para evitar contato com o tenente. A licença foi encerrada no mês retrasado e ela precisou voltou ao trabalho. Na sequência, Novaes teria conseguido o telefone dela e recomeçado o assédio.
Segundo ela, o comandante prometia sustentar os filhos da soldado, dar uma promoção para ela dentro da corporação e a transferência que ela queria para o litoral paulista.
”Eu pensei que precisava de provas porque ele sempre ia fazer isso e ninguém ia acreditar. Entrei em contato com um advogado e ele me orientou a ver até onde ele iria, deixando ele falar”, conta. ”Foram coisas muito baixas. Me ameaçou de estupro”, afirmou ao G1.
Há também ameaças de morte por áudios. Em uma das falas, o comandante afirma que ”não existe segredo entre dois, um tem que morrer” e ”quem não tem problema na vida, está no cemitério”. Fonte: Yahoo Notícias