”Se combustíveis ficarem muito acima do preço do mercado, vamos mexer”, diz presidente da Petrobras; leia entrevista

A Petrobras pode baixar os preços caso os combustíveis no Brasil fiquem muito mais caros do que os patamares praticados no mercado internacional, de acordo com a presidente da estatal, Magda Chambriard. Recentes pressões, incluindo ações do chefe da Casa Branca, Donald Trump, têm empurrado o petróleo para baixo. Atualmente, a cotação do Brent está em cerca de US$ 70,00 por barril, abaixo dos US$ 83,00 previstos no plano da Petrobras, divulgado em novembro último.

“Se o preço ficar muito acima do mercado e enxergarmos que a tendência é essa, vamos mexer certamente. Da mesma forma, se ficar abaixo, vamos mexer também”, disse Magda, em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de São Paulo, durante evento da Câmara de Comércio Brasil-Texas (Bratecc). O encontro acontece paralelo a CERAWeek, uma das maiores conferências de energia do mundo, realizada em Houston (EUA). “Hoje, nós não estamos pensando em mexer (nos preços) a curto prazo”, acrescentou, sem precisar qual seria esse horizonte.

Quanto à aprovação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para o plano de limpeza da sonda que será utilizada na Margem Equatorial, Magda disse que é um indicativo de que a Petrobras está no caminho certo para começar a explorar a área, considerada uma espécie de ‘novo pré-sal’, mas que divide ambientalistas e o setor de óleo e gás no Brasil. Abaixo, os principais trechos da entrevista:

É a sua primeira vez como presidente da Petrobras na CERAWeek, que acontece em meio a um chacoalhão do presidente dos EUA, Donald Trump, no mundo, e, em especial, no setor de energia. Quais foram as suas impressões?

A grande mensagem dos representantes dos Estados Unidos foi ‘olha, nós estamos querendo que vocês sejam bem-vindos, que produzam muita energia’. Essa é uma boa mensagem e que acolhemos de uma forma muito benéfica. No Brasil, é a mesma coisa. A gente também diz bem-vindos para quem quer investir, fazer geração de energia no Brasil. Energia é desenvolvimento, ainda mais agora, que estamos abraçando a inteligência artificial, aumentando a demanda de energia pelo mundo.

Como a Petrobras se posiciona neste cenário?

Fornecemos 31% de toda a energia primária do País. Olhando para os próximos 25 anos, para mantermos a nossa relevância, a Petrobras precisa crescer no passo do Brasil. Vamos ter de crescer pelo menos 60% nos próximos 25 anos. E aí muitos vão dizer assim, ah, mas isso é muito desafiador, isso é difícil de acontecer, e eu digo, não, não é tão difícil.

Por quê?

Porque, na verdade, estamos aumentando a produção do pré-sal. Pretendemos agregar mais 400 mil barris por dia de petróleo até 2030. Grande parte desse crescimento ainda virá do pré-sal, mas vamos precisar complementá-lo para manter a relevância da Petrobras em um País muito mais demandante de energia. Precisamos inserir novas fontes de energia que virão principalmente das renováveis, mas também das térmicas.

Qual a ambição da Petrobras nos Estados Unidos? Há interesse de voltar a ter mais presença no Golfo do México, como no passado?

Nós ainda temos ativo no Golfo do México, pouca coisa. Como lidamos com uma energia não renovável, precisamos repor reservas para manter o patamar de produção. Vamos buscar repor reservas no Brasil e no exterior também.

Quais são as praças de interesse?

O que gosto de dizer é que quando somos bons no que fazemos, fazemos de novo e de novo. Somos bons na Margem Atlântica do Brasil que guarda muita similaridade com a africana. O que aparecer de oportunidade do porte da Petrobras, acessível, e preço compatível com o mercado, nós temos interesse.

E nos Brics?

Estão aparecendo oportunidades nos Brics. A Índia está abrindo áreas exploratórias que estavam fechadas há muito tempo. Uma delas é a décima rodada de licitação com blocos de ótimos tamanhos. Vamos dar uma olhada na Índia também. Se vamos entrar lá, se vamos gostar ou não, eu não sei.

A sra. sentiu alguma pressão dos investidores estrangeiros em relação aos investimentos em energia renovável com a volta do Trump?

O que temos ouvido de alguns investidores é: esses projetos de energias renováveis têm a mesma taxa de retorno que E&P (exploração e produção)? Não é melhor investir em E&P? Dificilmente, nós vamos ter o retorno do pré-sal, mas o pré-sal também não é infinito. Precisamos de uma cesta de negócios que garanta a perenidade da empresa. Alguns vão ser imensos em termos de retorno, outros nem tanto, mas todos precisam ser rentáveis em três cenários: otimista, moderado e pessimista.

Como a Petrobras recebeu a aprovação do Ibama para o plano de limpeza da sonda que será utilizada na Margem Equatorial?

Com muita alegria, estávamos esperando por isso há muito tempo. Entregamos a última demanda do Ibama no fim de novembro, respondendo a todos os questionamentos. Estamos concluindo a obra do segundo Centro de Despetrolização da Fauna, no Oiapoque (Amapá), no fim de março; promovemos energia no local, que não tinha; conservamos o aeroporto; e atribuímos tudo isso à autorização do Ibama para mover a sonda e começar a limpeza.

Quanto tempo demora esse processo?

Essa sonda está furando na Bacia de campos e vai levar dois meses para limpar o casco. Temos de garantir que não vá nenhuma espécie invasora. É uma sonda de primeira qualidade, compatível com todos os níveis de segurança para perfurar no Amapá, em águas profundas. Estamos promovendo um plano de emergência individual único no mundo. É o maior que eu já vi para águas profundas, inclusive contando com monitoramento de eventuais derrames com tecnologia em parceria com a Nasa.

Qual o próximo passo? A sra. está otimista com a obtenção da licença para a Margem Equatorial?

Com certeza. Apesar do presidente do Ibama dizer que, olha, isso não é garantia de licença, eu acho que, no mínimo, é um excelente indicativo de que estamos no caminho certo.

Sobre pressões nos preços…

Olha só, a pressão vem mais pelo jornal, pelos jornalistas e pelo mercado. Porque o governo mesmo está entendendo como correto o posicionamento da Petrobras. No ano passado, logo que assumi, eu disse: esse preço não está legal. E tivemos toda a liberdade, sem nenhuma pressão, nenhum constrangimento, para colocar o preço no patamar que entendemos como correto.

Qual é o momento agora?

No começo do governo Lula, a Petrobras fez um movimento de abrasileiramento dos preços. Construímos um cenário, no qual acompanhamos a tendência no mercado internacional, evitando trazer para o Brasil a volatilidade, seja a flutuação do preço do Brent ou do câmbio, e sem cobrar custos inexistentes. O Conselho de Administração, com representantes governamentais e privados, acompanha esse desempenho todo mês. Fechamos 2024, e ninguém reclamou. Acho que estamos no caminho certo. Preço não foi um problema, não oneramos o caixa da empresa com questões de preço, e no começo do ano aumentamos o preço do diesel de novo.

O ministro de Minas e Energia disse em entrevista à Coluna do Estadão que, considerando os preços mais baixos do petróleo no mercado internacional e a queda do dólar, é o momento de analisar uma redução do preço dos combustíveis no Brasil. A sra. concorda?

Analisamos o preço no mínimo a cada 15 dias. Isso aí faz parte da nossa obrigação, olhar esses preços toda hora.

E já está na hora de baixar?

Se o preço ficar muito acima do mercado e enxergarmos que a tendência é essa, vamos mexer certamente. Da mesma forma, se ficar abaixo, vamos mexer também. Monitoramos isso e também o market share. O que não é interessante para nós é ficar com o preço muito alto porque perdemos mercado. Com preço muito baixo, perdemos dinheiro. O que fazemos é olhar o tempo todo se essas coisas estão equilibradas dentro do que a Petrobras se propõe.

Hoje, estão equilibradas?

Hoje, nós não estamos pensando em mexer (nos preços) a curto prazo.

 

Aline Bronzati/Estadão