O Brasil viveu, nas eleições 2022, um dos momentos mais marcantes de sua democracia. Literalmente dividido por propostas e passado distintos dos dois postulantes à presidência, acabou concedendo, pela diferença de um ponto percentual ou pouquinho mais, uma nova oportunidade ao ex-presidente Lula para reescrever sua história, desafio que o petista deve entender como único e saber reconhecer e honrar cada voto que lhe foi dado por esses mais de 60 milhões de brasileiros. E quem sabe, sua vinda hoje para uma semaninha de descanso na Bahia, não o ajude com as bênçãos do Senhor do Bonfim e de todos os Orixás, não errar mais.
Mas já que falamos na Bahia, tão importante para a conquista nacional de Lula, há um personagem a comemorar a vitória no pleito governamental com justo entusiasmo e incontida alegria. Estou falando do governador Rui Costa, quase crucificados em praça pública pelos aliados pela considerada errônea escolha de Jerônimo Rodrigues para candidato a sua sucessão e que viu o pupilo experimentar uma arrancada espetacular, batendo o ex-prefeito ACM Neto, favoritíssimo no embate, com quase meio milhão de votos de frente.
E nesse confronto há um detalhe importante a ser ressaltado. Jerônimo e acima de tudo Rui, tinham pela frente não um adversário qualquer, nascido no seio das oposições, como foi há 4 anos, José Ronaldo. Lá estava para confrontar com Jerônimo ninguém menos que ACM Neto, um gestor público com todas as letras maiúsculas, prefeito eleito e reeleito com expressiva votação e que ainda fez seu sucessor, levando, por conta disso, além do nome e sobrenome do lendário avô, uma história de sucesso como administrador. Tanto assim que, líder em todas as pesquisas no primeiro turno, era tido como uma barbada nessa corrida para chegar ao Palácio de Ondina.
Mas Rui resolveu apostar todas as suas fichas em Jerônimo. Sabia que teria Lula com seu 13 para dar uma força, mas sabia também que essa força seria limitada. Preocupado com sua luta para chegar ao Planalto, Lula se manteve quase todo o tempo comedido na sucessão estadual, merecendo igual tratamento de Neto, por conta, ao que se fala, de um acordo costurado nos bastidores, de não agressão entre eles.
Aqui só apareceu quando viu que tinha mais a ganhar com Rui ao seu lado que seguir meio anestesiado pelo silêncio de Neto, que praticamente passou toda a campanha a pedir voto para Lula ou a cunhar, quando nada, com um ”tanto faz”, sua sentença em relação aos postulantes ao Planalto.
Apostou Rui e mostrou que além de aprovado como um bom governador, tornou-se uma liderança capaz de eleger no seu rastro um sucessor, mesmo que tardiamente escolhido. E quanto a isso, ressalte-se, faz parte do estilo Rui de merecer senão um 10 mas um 9,5 como gestor e um 4, com muito boa vontade, no quesito fazer política. Até aliados próximo admitem que esse não é nem será o seu forte. ”O negócio de Rui é administrar e trabalhar”, pontua um deputado com alguns mandatos acumulados no currículo.
Daí, concluída a apuração e com Jerônimo eleito, Rui pôde receber, com muita justiça, os cumprimentos dos correligionários e aliados. Verdade que não ganhou só, teve no senador reeleito Otto Alencar um grande aliado – condição que o outro senador do grupo, Ângelo Coronel abdicou, tendo participação discreta na campanha – e uma natural participação do também senador Jaques Wagner, ainda que este mais voltado para o pleito nacional.
Da turma próxima teve o reconhecimento, agora resta saber o que o presidente eleito reserva para ele e para a Bahia. Wagner tem seu mandato e pode ser extremamente útil no senado e no Congresso, onde, aliás, transita bem. Rui tem o currículo de bom administrador. Se a Bahia tiver e por justiça merece ter, uma posição de destaque no primeiro escalão de Lula, este lugar deve ser de Rui.
Mas por tudo que a Bahia representou neste pleito, uma segunda cadeira deve ser destinada a outro baiano. Ou a uma baiana. Se ministra não for, pelo menos título de rainha ela já tem.
*Paulo Roberto Sampaio é diretor de Redação da Tribuna.