Pisando em ovos

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A eleição de 83 prefeitos em outubro do ano passado; a votação expressiva que levou Eures Ribeiro ao comando da União dos Municípios da Bahia (UPB); e a vitória de Angelo Coronel na eleição para a presidência da Assembleia Legislativa, todos do PSD, demonstraram o poder e peso eleitoral do senador Otto Alencar, que comanda a legenda na Bahia.

Numa primeira leitura, se depreende uma fragilidade do governador Rui Costa (PT). Mas esta é, em si, uma meia verdade. Não há, por ora, como dizer que Rui é o grande derrotado do processo, como de forma verborrágica se arvoraram a dizer o prefeito ACM Neto e seus achegados.

Da base de Rui, Otto se tornou um gigante. Além das vitórias citadas, o senador conseguiu ampliar ainda mais a participação do seu partido no governo. Além da Secretaria de Infraestrutra, ele ganhou a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano (Sedur) e já tinha também o Desenbahia, capitaneados por seu filho.

Otto virou a noiva mais cobiçada da paróquia. Por ele, brigam oposição e governo. A oposição entra no ringue provocando, falando de articulações feitas para melar a aliança entre Rui e Otto em 2018; o governo se faz de bobo e repete como mantra que a aliança está mantida.

Vendo daqui, se fazer de bobo, para manter um projeto que visa a manutenção do poder por pelo menos mais quatro anos, parece a jogada mais acertada.

De atuação política mais discreta, Rui Costa se forjou na sombra do “companheiro” Wagner. No início da década de 1980, quando da fundação do PT, ele não imaginava chegar ao cargo máximo na Bahia, mas chegou.

Rui, ao que me parece, não é burro. Come pelas beiradas. Pisar em ovos, ficar no fio da navalha para ter a garantia do apoio de Otto daqui a dois anos não é um drama para Rui, desde que ele consiga ser um bom equilibrista. No mais, é preciso ter jogo de cintura, cautela com as palavras para não perder o aliado e ter em mente o ditado certeiro: quem fala muito acaba dando bom dia a cavalo.

*Por Cíntia Kelly