A escolha do advogado Vicente Oliva Buratto para membro do Tribunal Eleitoral da Bahia pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é resultado da primeira aliança tática entre o vereador Alexandre Aleluia (DEM) e o ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos), contra o ex-prefeito ACM Neto (DEM) na Bahia.
Neto apoiava desde a primeira formação da lista tríplice o nome do conceituado advogado baiano Fabiano Mota, mas sentiu que não poderia mais trabalhar por sua indicação junto ao governo federal a partir do momento em que deixou claro seu afastamento do presidente por ocasião da nomeação de Roma para o ministério, no início do ano.
Deputados federais aliados do ex-prefeito na Bahia, mas alinhados ao governo Bolsonaro em Brasília, ainda tentaram assumir a paternidade da indicação de Fabiano, mas o presidente usou a situação para testar os limites da independência do ex-prefeito e passou a exigir um aceno como condição para fazer a nomeação.
Neto interpretou a exigência como uma forma de ser submetido por Bolsonaro, o que, quem o conhece, sabe que ele jamais toparia. Procurador do Estado, de perfil técnico e inicialmente distante da política partidária e dos três grupos, Buratto passou a se movimentar no vácuo criado pelas dificuldades surgidas para os concorrentes.
Enquanto Fabiano, que chegara a ser o mais forte no início, se fragilizara com o conflito entre o padrinho e o presidente, um óbice também repentino surgia para o terceiro candidato, o famoso criminalista Luis Coutinho, próximo do procurador geral da República, Augusto Aras, que, no entanto, assumiu equidistância da disputa.
Espécie de segunda opção no jogo, ele passou a ver o nome declinar pelo fato de o irmão ter se tornado comandante geral da PM do governo Rui Costa (PT). Apesar de a escolha ter sido técnica, baseada no excelente conceito do policial na tropa e fora dela, não é algo que a cabeça binária de Bolsonaro admita.
Por este motivo, o acordo entre Roma e Aleluia por Buratto foi por eliminação. Eles podiam ter tentado bancar Fabiano, que ambos conheciam da época em que transitavam no grupo de Neto, mas preferiram ir em busca de um nome cujo apadrinhamento pudessem dividir sem dúvidas e com exclusividade na Justiça Eleitoral da Bahia.
Mas não só isso: os dois podem, a partir de agora, se vangloriar de, aproveitando o distanciamento deliberado de Neto de Bolsonaro, mostrar quem representa de fato o governo federal na Bahia. Quanto à aliança entre os dois, o tempo dirá se é sustentável.
*Política Livre