A reprovação à atuação do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal) despencou em meio à crise política do governo Jair Bolsonaro, de acordo com pesquisa do Datafolha. Em levantamento feito entre a segunda (25) e a terça-feira (26), o instituto detectou forte queda na taxa de avaliação ruim/péssima sobre os trabalhos do Legislativo e do Judiciário em relação a pesquisa anterior com esse questionamento, feita em dezembro passado.
O Congresso e o STF vêm sendo desde março alvos de protestos de militantes bolsonaristas, e o próprio presidente compareceu a alguns desses atos. Ativistas mais radicalizados defendem inclusive o fechamento do tribunal e do Legislativo —prerrogativa que o presidente da República, no entanto, não possui.
Segundo a pesquisa do Datafolha, 32% consideram o desempenho dos senadores e deputados federais ruim ou péssimo, ante 45% seis meses atrás. Hoje, 18% acham o trabalho deles ótimo ou bom —eram 14% no levantamento anterior. A avaliação como regular está em 47%.
A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Foram ouvidas 2.069 pessoas de todo o país. Por causa da pandemia do novo coronavírus, as entrevistas foram feitas por telefone, método que exige questionários rápidos, sem a utilização de estímulos visuais.
Já em relação ao Judiciário, 30% entendem que o STF tem feito um trabalho ótimo ou bom —eram 19% em dezembro. A taxa de avaliação ruim ou péssima caiu de 39% para 26% agora. Outros 40% consideram hoje regular o desempenho dos ministros.
Frequentemente criticado pela morosidade ao julgar casos de corrupção, o tribunal tem freado nos últimos meses algumas iniciativas relevantes do governo Bolsonaro.
A corte, por exemplo, por meio de ordem do ministro Marco Aurélio Mello, definiu que estados e municípios têm autonomia para decidir sobre restrições à circulação de pessoas na pandemia. Em abril, o ministro Alexandre de Moraes barrou a nomeação de um amigo da família do presidente, Alexandre Ramagem, para a direção da Polícia Federal.
Além disso, o ministro Celso de Mello, decano da corte, tem agilizado um inquérito policial contra o presidente e determinou que ministros generais prestassem depoimentos. Bolsonaro tem reagido a essas medidas e já reclamou publicamente do comportamento do relator de seu inquérito. Em um dos protestos em que esteve, em Brasília, chegou a falar em uma situação ”limite”.
As circunstâncias recrudesceram na última semana, já depois da conclusão da pesquisa, quando a Polícia Federal fez buscas em endereços de apoiadores de Bolsonaro, como empresários, blogueiros e ativistas, por ordem de Alexandre de Moraes em um inquérito que investiga ameaças e um esquema de fake news.
O levantamento do Datafolha mostra também que os entrevistados que avaliam positivamente o governo federal tendem a ser mais críticos do Supremo Tribunal Federal. Entre aqueles que consideram a gestão de Bolsonaro ótima ou boa, a taxa de ruim e péssimo sobre o trabalho do tribunal passa de 26% para 42%.
Da mesma maneira, entre os entrevistados que acham o governo federal ruim ou péssimo tende a haver uma avaliação melhor dos juízes da corte. Entrevistados que possuem curso superior e têm alta renda familiar mensal também são mais críticos ao tribunal. Nesse último grupo, a taxa de ruim/péssimo dos juízes vai a 48%.
Diferentemente do Supremo, o Congresso Nacional possui uma ala claramente de apoio ao presidente.
A gestão de Bolsonaro, porém, não construiu uma base sólida de partidos apoiadores, ao contrário de governos anteriores.
Ele tenta agora ampliar sua aliança no Senado e na Câmara dos Deputados por meio de uma aproximação com partidos do chamado centrão. Desde a posse, o comando das duas Casas tem agido de modo independente em relação ao governo.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), costuma fazer críticas à gestão Bolsonaro, mas atuou pela aprovação da reforma da Previdência, no ano passado, e não deu seguimento até agora a pedidos de impeachment contra o presidente da República. Maia se tornou um dos principais alvos de simpatizantes do presidente em atos e protestos.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), tem atuado de modo parecido ao de seu colega da Câmara. Embora tenha feito acenos ao governo, já chegou a dizer que o país “precisa de uma liderança séria” após Bolsonaro minimizar a dimensão da pandemia em um pronunciamento em rede de TV, em março.
Segundo o Datafolha, entre entrevistados que declararam ter votado em 2018 em Fernando Haddad (PT), adversário de Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial, a taxa de ruim/péssimo na avaliação do Congresso diminui para 27%.
O índice de ótimo/bom dos congressistas sobe para 26% entre aqueles que declararam ter escolaridade de nível fundamental e cai para 8% no grupo de eleitores que declaram ter renda familiar mensal superior a dez salários mínimos. No recorte regional, o índice de ótimo/bom dos congressistas cai para 13% levando em conta apenas entrevistados do Sul do país. Com informações da Folha