Na era da internet e das novas tecnologias, os smartphones têm conquistado cada vez mais adeptos, inclusive crianças, que estão substituindo brincadeiras tradicionais pelos modernos celulares, seja para jogos, uso de redes sociais ou até mesmo para fazer ligações. Mas o que os pais não sabem é que este ”vício” pode trazer danos à saúde dos filhos. Pelo menos é isso que pretende analisar a pesquisa Exposição das radiações decorrentes do telefone celular e efeitos na saúde de crianças e adolescentes. Realizado pela física baiana Denize Francisca da Silva, o estudo inédito no Brasil faz parte do pós-doutorado dela, desenvolvido em parceria com a pesquisadora Emico Okuno, do Instituto de Física Nuclear da Universidade de São Paulo (USP). Pelo mundo, pesquisas já apontam indícios de que o uso do equipamento pode causar problemas na visão, hipertensão, distúrbios do sono e danos ao cérebro. Em 2011, a Organização Mundial da Saúde classificou o celular como possivelmente cancerígeno. Nas crianças, pesquisadores defendem que, por terem a cabeça menor e os ossos do crânio mais finos, a radiação do celular pode atingir partes mais profundas do cérebro, o que pode gerar danos à saúde. Em crianças, a Agência Sanitária da França aponta, em pesquisa divulgada em 2016, que as ondas eletromagnéticas emitidas por celulares podem ter efeitos sobre as funções cognitivas das crianças, especialmente memória, atenção e coordenação. Denize vai a 90 escolas públicas e privadas, onde deve conversar com 2.400 crianças e adolescentes entre 6 e 14 anos, além de pais, e profissionais das unidades de ensino. ”O uso inadequado de telefone celular por crianças e adolescentes é bastante preocupante por questões relacionadas tanto com a exposição à radiação quanto ao comportamento”, ressalta.
Riscos
As crianças estão mais expostas à radiação do celular e, por isso, os riscos do uso dos equipamentos podem ser maiores. Isso é o que defende o pesquisador gaúcho Cláudio Enrique Fernandez, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que estuda o tema. ”O tipo de exposição de uma criança é diferente de um adulto. A criança tem uma cabeça menor, o osso do crânio é mais fino, a onda do celular atinge partes diferentes do cérebro, mais profundas do que na cabeça de um adulto”, explica. Mesmo se o tipo de exposição fosse igual em crianças e adultos, ele complementa, o sistema imunológico dos pequenos não está totalmente desenvolvido. A enfermeira Jácia Uzêda, por exemplo, controla o uso do aparelho pelo filho Luiz Henrique, de 8 anos. Ela conta que entrega o smartphone sexta-feira à tarde e recolhe domingo. ”Tento controlar o máximo possível, inclusive evitando que ele fique o dia inteiro”, revela. A também enfermeira Edinalva Gomes vai além: a filha dela, Ana Clara, de 7 anos, não tem celular. Usa só um tablet nos finais de semana. ”Não tem birra. Tem final de semana que ela nem lembra”. As mães confessam que não sabiam dos riscos à saúde, mas ressaltam que há uma preocupação quanto ao comportamento. “Se ficar o dia inteiro no celular, ele fica extremamente nervoso”, afirma Jácia. ”Tenho medo é de ela deixar de ser criança e esquecer que o bom é estar ao lado de um amigo, descobrindo brincadeiras”, completa Edinalva.