Não foi uma, mas várias as vezes em que tentei confessar às paredes que gostaria de dar umas porradas em deputado pilantra, patife, tarado, psicopata, que ataca a moral do povo brasileiro, mas meus marcos civilizatórios sempre prevaleceram aos hormônios que desencadeiam prazer e raiva.
Já o deputado federal João Rodrigues (PSD-SC), usou a tribuna para demonstrar o prazer que sentiria em agredir o coreógrafo Wagner Schwartz que interagiu nu com crianças no Museu de Arte Moderna, o MAM.
E quem apoia a polêmica performance artística também merece porrada, disse.
“Não consigo acreditar que tenha algum pilantra, algum vagabundo dentro dessa Casa que aplauda isso, porque se tiver tem que levar porrada. Se tiver tem que ir para o cacete, para aprender. Bando de safado, bando de vagabundo, bando de traidores da moral da família brasileira. Tem que ir pra porrada com esses canalhas.”
O que não dá pra acreditar é que um deputado que foi flagrado durante sessão vendo pornografia no celular, ouse defender valores morais com apologia à violência.
Foi em 2015, em plena votação de reforma política que o deputado foi pego vendo vídeo pornô.
Esse mesmo, que agora imita o personagem humorístico ‘Maçaranduba’, que chamava quem tinha atitude civilizada de boiola e ameaçava ‘corrigir’ com porrada.
Quando pego em sessão plenária com os olhos em vaginas e bundas e pênis em filmes eróticos de baixíssima qualidade, culpou os amigos por lhe mandarem “muita sacanagem”. Detalhe: na mesa havia um convite para evento religioso.
João Rodrigues classificou o coreógrafo como tarado que estimula tarados.
“Um marmanjo completamente nu de mãos dadas com três ou quatro crianças fazia uma apresentação cultural”, começou a discursar o deputado, subindo o tom a cada frase dita. “O ato daquele pilantra que estava nu no museu de artes modernas não é só um ataque à moral do povo brasileiro, mas é pra mexer com o subconsciente dos tarados do Brasil”, disse.
O que dizer ao deputado que incentiva outros a ver pornografia durante a sessão, enquanto a sociedade trabalha duro para bancar seus salários e mordomias, que merece porrada?
A violência jamais vai regular civilizadamente o comportamento humano. E porque é o bolso e não o coração a parte mais sensível desses deputados demagogos, o ideal é a cassação, mas eles não se constrangem em punir com quebra de decoro.
A liberdade artística há de prevalecer à hipocrisia.
Foi o que se sobrepôs na obra de Nelson Rodrigues, que agradava a direita por apoiar a ditadura e à esquerda por seus enredos que desafiavam tabus.
“Querem me chamar de reacionário, chamem. Querem me pichar como reacionário, pichem. Querem me pendurar num galho de árvore como ladrão de cavalo, pendurem. Realmente, eu sou um libertário”.
Ao deputado deixo uma do polêmico teatrólogo: “Tarado é toda pessoa normal pega em flagrante”.
Duvido que ele entenda.
Por Luciana Oliveira