A disputa pela cadeira de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) virou mais um cabo de guerra no governo. O ministro da Justiça, Flávio Dino, passou a ser alvo de fogo amigo ainda maior depois que seu nome ressurgiu como cotado para ocupar a cadeira da ministra Rosa Weber, que comanda o STF e se aposenta no fim deste mês. A cúpula do PT prefere para a vaga o ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias.
Nem mesmo o argumento de que Dino no STF abriria uma vaga para o PT no Ministério da Justiça é suficiente para garantir a ele o apoio de dirigentes petistas, que criticam o seu protagonismo e o veem como um adversário político desde os tempos em que era governador do Maranhão.
Embora Dino defenda Lula e o governo na guerra contra aliados de Jair Bolsonaro, além de ter papel de destaque na investigação dos atos golpistas de 8 de janeiro e no caso das joias que envolve o ex-presidente, dirigentes e ministros do PT não escondem o desconforto com essa situação. Em conversas reservadas, não são poucos os que avaliam que o perfil midiático de Dino tem como objetivo um projeto pessoal.
Disputa
Nos bastidores, o diagnóstico do comando do PT é o de que, mesmo se entrar no STF, nada impede que Dino deixe a Corte para disputar a Presidência da República na eleição de 2030. O ministro é filiado ao PSB, partido que também abriga o vice, Geraldo Alckmin.
Quando questionado sobre o desejo de concorrer ao Palácio do Planalto nas próximas eleições, Dino tem dito que, em 2026, o candidato deve ser Lula. O ministro não descarta, porém, entrar na corrida presidencial mais adiante.
”Em 2030 é outra história. É aquela frase do Malan: ‘No Brasil, até o passado é imprevisível, imaginem o futuro”, desconversa ele, sempre que perguntado a respeito do tema, numa referência ao ex-ministro da Fazenda Pedro Malan. Dino nunca negou o desejo de entrar no Supremo. Só diz que, neste momento, não é hora de falar nesse assunto.
O nome do ministro havia sido praticamente descartado para a vaga do STF porque Lula avalia que ele tem feito um bom trabalho à frente do Ministério da Justiça. Nos últimos dias, porém, o presidente abriu consultas sobre a vaga de Rosa Weber.
Na semana passada, Lula ouviu elogios a Dino de dois ministros do STF: Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes. Até agora, Mendes dizia que apoiava a candidatura do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, que também conta com aval de boa parte do mundo político.
Trinca do inferno
A portas fechadas, ministros do PT argumentam que, se Dino for mesmo para o Supremo, o seu estilo ”lacrador” nas redes sociais, somado ao protagonismo de Moraes e de Mendes, pode acabar atrapalhando o Planalto. Em tom de piada, um deles disse à reportagem que, nesse caso, seria formada a ”trinca do inferno”.
Lula conversou a sós com Gilmar Mendes na última terça-feira, 29. Na mesma noite, jantou com Moraes, com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e com o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), no Palácio da Alvorada.
O presidente também ouviu, naquele jantar, a defesa do nome do desembargador de Minas José Afrânio Vilela para o Superior Tribunal de Justiça (STJ). Para a outra vaga no STJ Lula indicou, na semana passada, a advogada Daniela Teixeira, integrante do grupo Prerrogativas. O nome dela ainda deverá passar por sabatina no Senado.
Conhecido como Prerrô, o grupo também defende a candidatura de Jorge Messias para a vaga no Supremo e argumenta que o advogado-geral da União tem perfil ”progressista”. Messias tem encontro nesta segunda-feira, 4, com Lula, que também vai conversar com Dino e Bruno Dantas.
Rosa Weber se aposenta compulsoriamente no STF porque completa 75 anos em 2 de outubro. O ministro Luís Roberto Barroso assumirá a presidência do STF em 28 de setembro. Na prática, a maior parte do PT sempre quis que Lula indicasse uma mulher para a cadeira do Supremo, mas o presidente não encontrou um nome feminino com quem tenha liberdade de “trocar ideias”, como diz, para não ter surpresas nos julgamentos. *por Vera Rosa/Monica Gugliano/Estadão