O Kannalha, O Poeta, O Polêmico, A Dama, O Biruta, O Maestro, O Erótico, O Mago, O Karrasco… Além do swing baiano em comum, é nítida a utilização do artigo antes do nome artístico escolhido pelos cantores da chamada ”nova geração do pagode baiano”.
Mas se a utilização do artigo antes de nome próprio não faz parte do vocabulário baiano, o que explica a tendência no gênero musical?
Em conversa com o Bahia Notícias, o professor Matheus Oliver, doutor em Linguística pela Universidade Federal da Bahia, explica que há as duas possibilidades no português brasileiro e a tendência de usá-las ou não.
”O português que chegou aqui no último ano do século XV, em 1500, não usava artigo diante de nomes próprios. Os portugueses não usavam isso, é uma inovação pós-chegada de Portugal ao Brasil”, conta o professor.
De acordo com Oliver, os primeiros dados de uso do artigo antes do nome próprio no português europeu são do século XVII. Atualmente, o português europeu sempre usa o artigo.
Apesar de incomum no dialeto nordestino, Oliver reforça que, no Brasil, o uso do artigo virou uma marca a partir da década de 1970 com a presença parcial no dialeto dos habitantes dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
”No Nordeste isso não é uma regra, o uso não é muito grande. De pouquíssimos anos pra cá, a gente tem visto essa tendência, tanto na oralidade das pessoas, quanto em músicas”, analisa Oliver.
A hipótese levantada por Matheus, em parceria com o doutor em Linguística pela Unicamp, Victor Veríssimo, é de que o uso do artigo aparece para imitar o que a sociedade tende a visualizar como norma de prestígio.
”Desde os anos 1960, a linguística já sabe que uma das coisas que fazem com que uma variação seja usada por um outro dialeto é o prestígio social. E Rio de Janeiro e São Paulo têm prestígio social”, explica Oliver.
O professor ainda exemplifica os jornais televisivos como parte influenciadora do dialeto durante as tentativas de fazer com que o jornalismo se aproxime da oralidade. Quando o eixo Rio-São Paulo utiliza massivamente o artigo diante do nome próprio, as afiliadas começam a usar também, às vezes inconscientes daquilo que é considerado a norma de maior prestígio da sociedade brasileira.
”Além disso, ainda vem youtubers, influenciadores… Com a expansão da internet no Brasil inteiro, os mais famosos são do eixo Rio-São Paulo. Então as pessoas tendem a imitar, a colocar no seu próprio padrão de fala, conscientemente ou não, esse tipo de variação”, opina Oliver. Com informações do Bahia Notícias