O atual ministro da Defesa, Jaques Wagner, tem alguns desafios bem espinhosos pela frente para tocar. O petista terá que colocar em prática duas de suas maiores qualidades políticas: a capacidade de conciliação e articulação, tão necessárias para enfrentar o turbilhão que se tornou o Planalto Central, em meio aos desgastes advindos com o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. É crise financeira, crise hídrica e energética, desgaste com o Congresso Nacional e o escândalo do Petrolão. Além disso, o petista, que é ex-governador da Bahia, tem tentado se destronar do posto que ocupou por oito anos e deixar seu sucessor, Rui Costa, governar. É fato que Rui e Wagner se falam várias vezes ao longo do dia, todos os dias da semana. No entanto, para o grande público, o ex tem deixado o atual gestor tocar “sozinho” a máquina pública estadual.
Wagner tem servido mais como conselheiro do aliado. Isso porque ele não tem negociado no varejo. Tem atuado como estrategista e tentado não se envolver diretamente nas querelas locais, evitando, inclusive, que as muitas demandas dos insatisfeitos recaiam sobre seu colo. Com isso, os aliados baianos foram obrigados a aprender a conviver com o estilo duro do atual governador, passando a negociar diretamente com ele e seus auxiliares diretos.
Até porque, Wagner tem preferido acompanhar a gestão estadual com uma distância regulamentar, sobretudo, por estar atolado até o pescoço na tarefa hercúlea de salvar o governo Dilma. O petista está tentando conciliar o momento de instabilidade política nacional, com ajuste fiscal e com o desejo das Forças Armadas de crescerem e serem reaparelhadas. O detalhe é que de nada adiantará o ex-gov tentar empreender melhorias na Marinha, Exército e Aeronáutica, se a situação de instabilidade do país não for debelada. Há quem diga também que a presidente Dilma tenha acertado ao colocar Wagner na Defesa, por ser um setor vulnerável e estratégico para o Planalto. Ainda mais diante do descontentamento dos militares com o momento do país e com a superexposição que tiveram com o resultado da Comissão da Verdade, que trouxe à tona detalhes sobre o período sombrio da ditadura militar.
Agora, a habilidade do petista de atuar como estrategista tem se esbarrado em outro petista de alto coturno. Wagner estaria sentindo dificuldade de ajudar mais na articulação política do governo federal, devido ao também ministro (da Casa Civil) Aloizio Mercadante estar atuando nos bastidores para impedir a concretização das estratégias montadas pelo ex-governador baiano. Mercadante, que vislumbra ser o candidato do PT à Presidência da República em 2018, vê em Wagner uma ameaça real a seus planos, desconsiderando que o nome natural para a disputa é o ex-presidente Lula. A suposta disputa entre eles teria ganhado, inclusive, um novo capítulo nos últimos dias, quando o ministro da Defesa teria telefonado para o colega para desmentir a notícia de que pretende disputar a sucessão presidencial. Pessoas próximas ao petista garantem que não há rusgas entre os dois, que se falam constantemente. Atribuem “ao entorno” do petista paulistano os disse-me-disses envolvendo eles.
Na visão de aliados do ex-governador da Bahia, todos os problemas envolvendo o governo Dilma já estão encaminhados. As crises hídrica e energética estão encaminhadas, o Petrolão está sendo investigado e o país ainda não entrou em estado de total letargia, apesar de o cenário nebuloso não dar mostras de que vai melhorar. Talvez o maior desafio de todos, que Wagner tem pela frente, é o de ser ouvido pela presidente Dilma, que possui um estilo totalmente centralizador, o que dificulta a realização de mudanças mais firmes no rumo do seu governo e do país.
*Por Osvaldo Lyra