A prévia de 2026 a ser travada no segundo turno das eleições em Camaçari entre PT e União Brasil promete render emoções até para quem não tem uma relação direta com a cidade. Para além de um dos maiores PIBs da Bahia, Camaçari atrai a atenção de quem se interessa por política, visto que contará esforços hercúleos dos dois lados para ganhar a prefeitura a cidade da Região Metropolitana de Salvador. E, mesmo que o resultado — seja uma vitória ou eventual derrota — não seja decisivo para a disputa pelo governo da Bahia, será usado como argumento para o próximo pleito.
A cidade se desenvolveu a partir do polo petroquímico — hoje mais industrial — viveu em 2024 a primeira oportunidade de ter uma eleição em dois turnos. Levou a sério a chance e falhas em diversas urnas tornaram a apuração ainda mais emocionante. Apenas ao final foi confirmada a parca diferença de 559 entre Caetano (PT), que ficou à frente, e Flávio (União). E, desde a noite de domingo, já tiveram início as conversas e articulações para definir as estratégias que cada grupo político deve adotar para essa segunda etapa.
Do lado de Caetano, uma inauguração despretensiosa pelo governador Jerônimo Rodrigues, nesta quinta-feira (10), dá o tom. O ex-secretário de Relações Institucionais usará o máximo possível a máquina estadual e as figuras caras ao petismo baiano para tentar convencer os eleitores camaçarienses que ele é o melhor investimento para retornar ao comando do Executivo. Caetano já fora prefeito em duas oportunidades e fez um sucessor (Ademar Delgado) que não conseguiu ser reeleito, dando espaço para a ascensão de Elinaldo Araújo. Agora, prega o discurso de alinhamento com os governos federal e estadual como uma espécie de mantra para voltar ao comando da prefeitura.
Contudo, essas mesmas ferramentas foram usadas no primeiro turno e, ainda assim, o ex-prefeito não conseguiu liquidar a fatura. A diferença foi apertada e a motilidade dos votos será algo essencial para definir quem leva a prefeitura. Por isso, Caetano tem uma carta que seria uma espécie de ”super trunfo” e que, até o momento, não deu sinais de que desembarcaria por aqui: Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente da República, arregimentador de votos na Bahia, não veio presencialmente a Camaçari e, por enquanto, confirmou presença entre os turnos apenas nas capitais. Esse foi a única carta na manga que ainda não foi usada pelo petista.
Já o adversário, Flávio Matos, tem a máquina da prefeitura a seu favor, dado que Elinaldo foi o padrinho político da candidatura e o reforço dos prefeitos do apelidado ”Cinturão 44”, que elegeu Bruno Reis em Salvador e Débora Régis em Lauro de Freitas, para ficar restrito aos dois maiores municípios da região metropolitana. Flávio deve contar com esses reforços na campanha e a ausência de uma atenção dividida de outros caciques como ACM Neto e Paulo Azi, que devem estar mais presentes até o dia 27 de outubro.
A questão da atenção dividida também favorece Caetano, visto que Jerônimo e os ex-governadores Rui Costa e Jaques Wagner não terão que estar presentes em outras cidades da Bahia durante esse ”sprint” final da corrida. No entanto, aí entra em questão uma estratégia que Flávio até usou, mas que não pegou completamente: a ideia de renovação, que é cara ao PT há bastante tempo. Apesar do PT ter a ”fórmula” para ganhar prefeituras no interior da Bahia, nas maiores cidades quem tem prevalecido é o União Brasil.
Camaçari promete ser uma prévia de 2026, ainda que nada do que aconteça lá interfira no resultado da disputa para o governo da Bahia. Todavia, valerá como um esquente para saber como vão se comportar diversos atores da cena política estadual.