O Brasil já passou por diversas crises, vivendo, ao longo de sua história, momentos de grande incerteza. No entanto os escândalos de corrupção (superfaturamento, pagamento de propinas, tráfico de influência, empreguismo, nepotismo, acobertamento, ”rachadinhas”, favorecimento e malversações) têm sido frequentes em esferas de poder e de governo. Escândalos afloram nos quatro quantos do país até em tempos de pandemia. Tempos bem estranhos e excruciantes esses. Aliás, como disse Ruy Barbosa, ”a crise política, a crise econômica, a crise financeira, não vêm a ser mais do que sintomas, exteriorizações parciais, manifestações reveladoras de um estado mais profundo, uma suprema crise: a crise moral”.
Mas o que fazer? Ficaremos mais uma vez perplexos e passivos ou pensaremos em uma saída fundamentada na ação?
Parece piegas falar em solução diante do quadro que se instalou, não é mesmo? Parece sonho pensar em um país sem corrupção, sem negacionismo, mais igualitário e justo, onde todos possam ter direito às condições básicas de saúde e educação.
O fato é que, enquanto eu viver e poetizar, sonharei. E, ao sonhar, ouso pensar grande. Pensar que posso, que é possível, que sou parte desse processo, que não estou à parte da crise, como cantado pelo poeta Guilherme Arantes.
Isso porque essa crise não é uma crise qualquer, não é individual tão somente, mas é uma crise social, é uma crise de caráter, é uma crise que envolve ética, princípios e envolvimento do cidadão. Sim! Exige envolvimento e comprometimento de todos.
Mas como posso ser eu o responsável por essa crise, pelos atos de pessoas corruptas que destroem o nosso País?
A resposta para isso também é a saída que proponho, caro leitor. E essa solução não é um bicho de sete cabeças, não é uma criação minha, contudo está na nossa frente, existe e é para ser construída por cada um de nós. Refiro-me ao controle.
Sim! Controle! O reverso da crise, o lado antagônico e inversamente proporcional a ela. Como assim? Você poderia indagar o que eu quero dizer com isso.
Quero dizer que, indubitavelmente, quanto menos controle tivermos, maior será a crise, pois a corrupção acha facilidade para se perpetuar. Mas não podemos, todavia, nos esquecer de que, se, por um lado, quanto mais controle melhor, o excesso de controle é descontrole, é desperdício. Se exercemos corretamente o controle, a crise será menor. Lógico que reduzir a corrupção a zero é utopia, mas juntos podemos transformar essa história e garantir um futuro bem melhor.
Como contribuiremos para um melhor controle? Exercendo o nosso papel, conscientizando-nos do quanto o papel do controle é fundamental para o bom funcionamento da sociedade. Mas também é preciso saber julgar. A saudosa sacerdotisa Maria Stella de Azevedo Santos, Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá, lembra que “é muito fácil julgar, principalmente quando aquele que está em julgamento não está presente para explicar seu comportamento ou quando não se comeu do mesmo pirão, isto é, não se está no lugar do outro”.
É fundamental que você, cidadão, busque, também, os canais de transparência, conheça de perto os órgãos de controle. O Tribunal de Contas do Estado, por exemplo, possui uma Ouvidoria. Manifeste-se, denuncie, critique, exija seus direitos.
Sejamos, pois, como as folhas cantadas na música “Panis Et Circenses”, dos Mutantes, que sabem ”procurar pelo sol. E as raízes procurar, procurar”. Não desista, insista, faça o nosso sol encontrar o seu brilho mais intenso. Essa luta é nossa! Não podemos desistir de sonhar!
*Inaldo da Paixão Santos Araújo é mestre em Contabilidade. Conselheiro-corregedor do Tribunal de Contas do Estado da Bahia, professor, escritor.