Uma mulher denunciou ter sido vítima de racismo em uma loja da Renner, no shopping Bela Vista, em Salvador. De acordo com a recepcionista Fernanda Rodrigues dos Santos, 42, um segurança do estabelecimento a acusou de furto, sem provas. O caso ocorreu na última sexta-feira (20), por volta das 14h30.
Fernanda conta que estava na loja quando uma mulher foi pega furtando dois perfumes. A suspeita foi retirada do local e os clientes continuaram o que estavam fazendo, assim como ela. ”Eu estava na seção de roupa, uma seção diferente da de perfumes, então eu voltei a ver o que tinha de bom lá, para depois ir em outra loja e decidir o que ia comprar”, explica.
Quando estava saindo da Renner, porém, Fernanda foi abordada por um segurança, que a impediu de passar pela porta, a acusando de furto. “Ele disse que eu estava roubando junto com a mulher, falou em tom agressivo comigo”, relembra. Ela pediu, então, para ver as câmeras de segurança para provar que não fez nada do que diziam e fez questão de não sair da loja até que a situação fosse resolvida.
”Depois disso, ele ficou falando com alguém pelo rádio, e mandou eu sair. ‘Vaza, vaza da loja’. Mas eu não saí para não dizerem que furtei e passei o produto para outra pessoa, fiquei sempre nos olhares das câmeras”, relata Fernanda. Ela diz que, em seguida, o segurança entrou em uma área restrita para funcionários, onde ela esperou alguém sair para falar sobre o ocorrido.
”Ali, eu já estava nervosa, trêmula, chorando, esperando alguém sair. Depois de um tempo, uma funcionária saiu e eu pedi para falar com a gerência, disse que um segurança me destratou. Ela entrou, demorou entre 10 e 15 min, e quando voltou disse que a gerente estava ocupada, resolvendo um assunto, e que, quando terminasse, falaria comigo”.
Depois de muita espera, a gerente apareceu e afirmou, segundo Fernanda, que viu os vídeos gravados pelas câmeras de segurança, viu a abordagem [do segurança] e que, diante disso, teria demitido o segurança. ”Não acreditei. Como ela demite alguém tão rápido, sem nem apurar?”, questiona.
Com toda a situação, Fernanda teve um pico de pressão e acabou desmaiando na loja, fraturando um pé. Ela foi socorrida pelo pronto socorro do shopping porque a loja teria a informado que não poderia ajudá-la. Assim que saiu do estabelecimento, ela decidiu não se calar diante do que aconteceu e, mesmo mancando e emocionalmente abalada, registrou um boletim de ocorrência na delegacia de polícia do bairro Tancredo Neves.
”Eu sou uma pessoa de boa índole, tenho caráter. [O que aconteceu] é horrivel, angustiante, deixa a gente apavorada. Como que uma pessoa, sem provas, diz que você roubou por causa da sua pele? Sinto como se fosse a mesma coisa de eu não poder entrar, porque minha cor estava causando mal a clientes e pessoas da loja”, desabafou.
O aniversário de Fernanda acontece nesta terça-feira (24), quando fará 43 anos. Para o dia, ela tinha planejado uma programação que não poderá mais seguir. ”Eu ia no shopping, fazer a unha, a sobrancelha… no dia do meu aniversário, ia sair para almoçar, aproveitar minha folga. Mas, por causa disso tudo, agora eu estou paralisada. Vou ter que ficar 14 dias afastada, não consigo nem colocar o pé no chão”, lamenta.
Procurado, o Shopping Bela Vista informou, em nota, que prestou atendimento médico à cliente e ofereceu toda a assistência necessária enquanto ela esteve no empreendimento. ”Ela fez o registro da queixa na Central de Atendimento ao Cliente e o shopping está aguardando a apuração dos fatos. O Bela Vista reitera que não compactua, não tolera e repudia quaisquer atitudes discriminatórias e reforça que possui um posicionamento democrático e de acolhimento à diversidade”, diz o comunicado.