Ainda não chegou o Carnaval, mas muitos que começam a ler este texto já desistiram de cumprir as suas resoluções de Ano-Novo. Estudo do Statistic Brain Research Institute mostra que 50% das pessoas que fazem planos para o ano mudam de ideia já em janeiro, e 27% nem esperam a virada e já desistem das promessas no final de dezembro.
Objetivos irreais e falta de planejamento são as principais causas desse resultado, aponta especialistas ouvidos pela reportagem. “A meta criada precisa estar de acordo com os valores de vida, ser relevante e trazer um impacto positivo para a pessoa. Imagine alguém querendo crescer na empresa, mas sabe que isso vai afetar a sua família, que é o mais importante para ela? Claro que ela vai arrumar uma maneira de sabotar o trabalho”, diz Douglas Maluf, life trainer e idealizador do Método MD – Inteligência Emocional.
Para o profissional, é preciso ter uma “conexão racional e emocional” com esse desejo. Esse foi exatamente o caso da produtora de marketing de conteúdo, Natalia Padalko, 32. Ela sabotava todo trabalho por onde passava até perceber que não gostava do lugar de onde trabalhava ou da proposta da empresa em que estava. “Queria crescer na empresa. Mas como eu conseguiria um cargo de confiança em um lugar que vende defensivos agrícolas se sou contra agrotóxicos?”, lembra a produtora.
Ao perceber quais eram seus valores mais importantes, Padalko se planejou para estudar, fazer cursos e pediu demissão. “É um processo de autoconhecimento longo. Mas hoje, eu trabalho em casa e aceito apenas clientes que tenham valores parecidos com os meus.”
Com essa questão maior resolvida e novas metas desenhadas, ainda é preciso pensar no planejamento. Essa fase exige um pensamento invertido da situação. “As pessoas fazem planos pensando no resultado que elas querem chegar, e a primeira pergunta a fazer é: o que vou precisar mudar na minha rotina para atingir essa meta. Se quero ler tantos livros no ano, em que momento eu vou ter tempo de fazer isso?”, pontua o psicólogo Ronaldo Coelho. “Se a ideia é comprar um carro, por exemplo, é preciso checar se é possível economizar, cortar gastos ou arcar com a parcela de um financiamento sem se perder no meio do caminho”, completa o especialista.
Por isso é importante adequar os seus objetivos à sua realidade de vida. A analista de negociações imobiliárias Juliana Lima da Costa, 38, acredita que os problemas financeiros são o maior entrave para ela cumprir novas metas. Ela ficou dois anos desempregada, acumulando dívidas e engordou 23 kg. “Fiz seis anos de muay thai e ainda tento voltar aos exercícios”, diz Costa.
Ela resolveu pagar uma academia mais simples e está conseguindo ir uma vez por semana, porque seria melhor do que não fazer nada. “Não desisti, mas o ritmo está bem lento”, reflete ela.
Costa não tem certeza de que manterá o ritmo na academia, mas adequar a meta à sua própria realidade é uma das regras para sair da inércia. “Não raro temos a tendência em estabelecer prazos irreais. Um exemplo é estipular um programa de quatro horas de estudos por dia de um novo idioma, quando esse tempo não existe. É muito mais eficiente estudar durante uma hora e ser constante”, avalia Maluf.
Se algo não sai do lugar repetidas vezes, é também o caso de entender se há questões mais profundas por trás do problema. “Emagrecer não tem só a ver com planejamento, tem a ver com aceitação, com sexualidade. Há casos de adolescentes que engordam para se proteger do assédio e isso não é algo consciente”, lembra Coelho. “Em relação ao dinheiro, há pessoas que vem de uma origem humilde e sentem culpa do sucesso financeiro, por isso boicotam seus planos de ganhos.” Do Estadão