Das seis farmacêuticas que fabricam cloroquina ou hidroxicloroquina no Brasil, quatro não recomendam que o remédio seja usado para tratar a Covid-19. Essa maioria foi formada após a Apsen, principal fabricante de hidroxicloroquina do país, se posicionar pela primeira vez contra o uso do medicamento para combater o coronavírus.
A mudança de posicionamento da Apsen Farmacêutica aconteceu na quarta-feira (3), mais de quatro meses depois de a OMS rejeitar de forma conclusiva o medicamento para este fim e após a Repórter Brasil entrar em contato com a empresa para questionar sobre dois contratos de empréstimo assinados com o BNDES em 2020, que somam R$ 136 milhões. Deste total, R$ 20 milhões já foram desembolsados pelo banco, mas para investimento em inovação —o contrato não permite investir em medicamentos antigos, como a cloroquina, que a Apsen produz há 18 anos.
Outros três laboratórios –Farmanguinhos/Fiocruz, EMS e Sanofi-Medley– já haviam divulgado comunicados no qual recomendavam o fármaco apenas para doenças previstas em bula, ou seja, malária, lúpus e doenças reumáticas.
Já os dois laboratórios restantes na lista dos fabricantes do medicamento, Cristália e Laboratório do Exército, não se posicionam de forma clara contra o uso do remédio para a Covid-19, mantendo aberta a possibilidade de que a cloroquina ou a hidroxicloroquina sejam usadas no tratamento dos infectados pelo novo coronavírus.
A fábrica militar alegou que, por ser apenas um “órgão executor”, não tem competência para opinar sobre a eficácia do medicamento que produz. Já o Cristália afirmou que a cloroquina é recomendada para malária e outras doenças, mas não descartou o uso para Covid-19, dizendo que ”qualquer recomendação fora das especificadas na bula deve ser feita sob responsabilidade do médico, como ocorre com qualquer medicamento”.
*por Diego Junqueira /Mariana Della Barba/ Folha