Fiel a uma tática bem sucedida estrategicamente, Jair Bolsonaro lança mão do popular ”bate, assopra” – com o detalhe que a cada dia bate mais forte e assopra menos. Mesmo que suas destemperanças verbais recebam enxurradas de críticas, desaprovações e repúdios, o cálculo político do Presidente acerta por assegurar que uma parcela expressiva da sociedade lhe renda apoio, tributo e dedicação, reproduza seu discurso e se ponha de prontidão para um chamamento mais decidido.
Há inclusive quem especule que o plano golpista se valha justamente desses segmentos radicais, fanáticos e extremistas para avançar tal qual a Marcha dos Camisas Negras na Itália. Ou que se repetiria o modelo aplicado recentemente na Bolívia, onde milícias e grupos paramilitares protagonizaram o grosso das ações que depuseram Evo Morales.
Ciente de que somente esse suporte não lhe dá condições de lograr êxito, faz uso recorrente de uma ”retrotopia” ao invocar a Ditadura Militar e colocar as Forças Armadas como fiadoras de suas pretensões antidemocráticas. O mal estar reclamado pela caserna não autoriza baixar a guarda, tampouco atribuir aos militares – de vasto portfólio intervencionista nas questões nacionais – um fator de estabilidade e segurança.
Corretamente, o jornalista Florestan Fernandes Jr. identificou um aspecto nada desimportante do jogo político: quem tem as FFAA consigo não precisa do Centrão. Mas sendo válido acatar tal raciocínio, também é lícito supor que isso pode ser não mais do que manobra diversionista. Ou um fôlego para ultrapassar momentaneamente as dificuldades postas pela crise econômica, a pandemia, o aparecimento de um flanco opositor no campo interior da burguesia e a queda relativa de popularidade.
No intrincado cenário que evolui em meio às contradições e conflitos, há a possibilidade de comparar – longe dos rigores metodológicos e historiográficos – as situações em curso com duas características que marcaram a 1ª Guerra Mundial no plano bélico: a guerra de posições e a guerra de movimento. Bolsonaro aproveita a excepcionalidade da conjuntura para posicionar suas tropas e artilharia. Estipula fortalecer trincheiras políticas ocupando terrenos mais favoráveis para um embate futuro – que virá – em condições superiores. Sabe ele que mais hora, menos hora, as tropas irão se movimentar para o combate aberto e, precavido, estabelece seu perímetro.
As oposições – a de Direita e a de Esquerda – ainda não trabalham em sincronia, unidade e acordo. Inegável que são adversários do regime, porém patinam nas idiossincrasias de uma visão política que subestima o potencial do fascismo, crédulas que estão nos instrumentos da Democracia. Ensaiam timidamente alguma ação conjunta, mas se chocam por causa das divergências quanto a agenda econômica, submetendo a Política a esse dado que não deveria ser o centro de qualquer iniciativa honesta que preconize a luta contra o perigo golpista e ditatorial.
Ocupa, assim, posições piores, deixa flancos expostos, confunde o efetivo militante com oriente dúbio e vacilante, enfim, prepara-se muito mal para o inevitável confronto em movimento. Apegada a padrões antiquados do fazer politico – os mesmos que decretaram a derrota eleitoral em 2018 – aguardam a batalha sem ordem unida, sem propósitos comuns, sem objetivos estratégicos.
Ainda resta tempo e espaço para definir e determinar posicionamentos inteligentes, capazes de resolver a principal questão que ameaça o edifício social e estatal. Não será fácil, simples e livre de sacrifícios e concessões de ambos os lados contrários à continuidade desse desgoverno. Forjar uma Frente Ampla de Salvação Nacional historicamente sempre apresenta dois fatores: a convicção e a funcionalidade, mas quando faltam opções recomenda-se trilhar por esse caminho sob pena de não ter uma segunda chance. Tomar as posições corretas e organizar a mobilização para a guerra aberta que se anuncia ainda que tardias são urgências. Oxalá os ”generais” cheguem a um consenso.
*Por Alex Saratt