Amigos, poucos cargos na política têm histórias tão interessantes como o posto de vice. É verdade que, ao longo do tempo, sempre foi visto como uma ocupação menor. O atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ao receber o convite de Barack Obama para ser candidato a vice-presidente em 2008, perguntou à sua equipe se por acaso alguém lembrava o nome do vice de Abraham Lincoln.
Depois de fazer um charminho aqui e outro acolá, acabou aceitando, mas ficou na dúvida se estava preparado para a função. Nunca tinha trabalhado para ninguém. ”Como vou lidar com isso?”, questionou ele à mulher, Jill Biden. A esposa, então, respondeu: “cresça”. Biden fez uma cobrança a Obama antes de aceitar o convite, segundo relatou seu biógrafo, o jornalista Evan Osnos. Exigiu participar de todas as reuniões importantes do governo. Queria realmente ser parte da administração americana.
Não sei se Geraldo Júnior, o vice-governador eleito da Bahia, fez a mesma exigência. Não me surpreenderia se assim fizesse. O certo é que, mesmo ainda faltando mais de um mês para o início da nova gestão estadual, de algo podemos ter certeza, caro leitor: Geraldo Júnior não aceitará ser um vice decorativo. Embora esteja no campo da política há quase trinta anos, o emedebista viu, nos últimos cinco anos, sua carreira política ter uma ascensão meteórica. Digna de causar inveja a muitos políticos com maior quilometragem.
Até 2017, Geraldo Júnior, embora demonstrasse muito potencial, era quase um político do baixo clero. Naquele ano, ascendeu a secretário municipal. Um ano depois, chegou à presidência da Câmara de Vereadores. Durante o período, trouxe inúmeras dores de cabeça para o então prefeito de Salvador, ACM Neto. Na busca por protagonismo, pediu a cabeça do então secretário Alberto Pimentel. Neto reagiu e disse: ”O prefeito sou eu. Quem avalia isso sou eu”.
O emedebista não aceitou ficar por baixo. No mesmo dia, retrucou: ”Quem pauta os projetos sou eu”. Na época, a prefeitura queria acelerar a votação de matérias relevantes na Câmara. Habilidoso, Geraldo Júnior soube usar nos anos seguintes a máquina legislativa para aumentar seu capital político e alcançar o posto de vice-governador no pleito deste ano. Tudo isso em apenas cinco anos. É arriscado dizer que o ímpeto de estrelismo de Geraldo Júnior irá prejudicar a futura gestão petista, mas será algo que o novo governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, terá que saber lidar.
Na eleição deste ano, o indicado do MDB deixou de fazer campanha pelo interior do estado. Há duas versões para essa medida. A primeira é de que os governistas queriam que Geraldo Júnior cuidasse dos votos em Salvador. O que, de fato, parece ter ajudado a evitar uma derrota maior do PT na capital baiana. A segunda versão é de que Geraldinho, como é conhecido, estaria ”roubando” a atenção nos eventos do interior e tirando o protagonismo do então candidato ao governo, Jerônimo Rodrigues.
Foi pelas mãos do senador Jaques Wagner que o emedebista foi alçado a vice na chapa petista. Há cinco anos, Wagner causou o maior mal-estar com o então vice de Rui Costa, João Leão. Ao defender o fim do cargo, afirmou que: ”vice-presidente, vice-governador e vice-prefeito só servem para tramar. Vice é gasto de dinheiro, fórum de intriga e fórum de constituição de golpe”. Não sei se a premissa de Wagner é de toda verdadeira, mas Frank Underwood, personagem daquela premiada série americana House of Cards, dizia que só existem dois tipos de vice. Os que chifram e os que são chifrados. Geraldo Júnior já mostrou que não está na política para ser chifrado.
*Rodrigo Daniel Silva é repórter da Tribuna