Na primeira semana de abril de 1964, um magote de militares fardados e estrelados chegou ao edifício Ultramarino, no Rio, ao lado da Basílica da Candelária, esquina das avenidas Rio Branco com Getulio Vargas, então sede da Petrobrás (hoje é na Avenida Chile). Era o general Olimpio Mourão Filho e sua trupe que vinham militarmente ocupar a Petrobras, em nome do “Comando da Revolução”. Derrubado o presidente João Goulart no dia 31 de março, o marechal Osvino Ferreira Alves e sua diretoria tinham sido afastados da empresa por ordem das forças golpistas vitoriosas e o advogado Roberto Toledo ficara provisoriamente como administrador-geral. Era uma situação caótica. Prisões e cassações se multiplicavam nas diversas unidades da empresa em diferentes Estados. No Rio, na administração central, importantes servidores de nível gerencial eram afastados pelos dedos-duros de plantão. Chegando de Juiz de Fora na madrugada de 1 de abril, o general Mourão imaginou que ia assumir o ministério da Guerra. Mas, lá chegando, já encontrou o general Costa e Silva sentado na cadeira, mãos para o alto: – Mourão, sou o mais velho. O chefe sou eu. Vá para a Petrobrás. MOURÃO Mourão foi. Nesse cenário surrealista, o bravo Doutor Toledo recebe o pelotão do general Mourão. Arthur da Costa e Silva, ministro da Guerra (era essa designação à época) ordenara que o general Mourão deveria ser empossado novo presidente da Petrobras. Era “uma ordem revolucionária”. Experiente e conhecedor da legislação interna da empresa, o advogado Toledo comunica ao general que a posse não poderia se efetivar naquele instante. Seria necessária a convocação, por edital, da Assembleia Geral para que o processo de posse se tornasse legal. O general Mourão Filho acatou o argumento e voltou com sua turma para esperar a publicação que lhe daria a Petrobrás e a legitimidade no cargo. Não ganhou nem uma nem outra. Cada general mordia seu pedaço de poder. Nomeado e empossado presidente da Republica o solerte, ambicioso e esperto general Humberto Castelo Branco, um de seus primeiros atos foi vetar o nome de Mourão para a Petrobrás e escolher o respeitado marechal Ademar de Queiroz para a direção da estatal. No que acertou. Sua administração foi um marco positivo e consolidador da autonomia gerencial, imprimindo um forte sentido nacionalista. Enfrentou e derrotou a tese do ministro Roberto Campos, do Planejamento, que desejava dividir a Petrobrás em várias unidades autônomas. TOLEDO O advogado Roberto Toledo foi por décadas a memória viva da história do petróleo brasileiro. Aposentou-se próximo dos 80 anos. Foi assessor jurídico de todos os presidentes da Petrobrás ao longo dos anos 50, 60, 70, 80 e 90. Uma longevidade alicerçada na competência jurídica e conhecimento técnico e histórico da estrutura organizacional da empresa. Um exemplo de servidor público e republicano. O brilhante professor e economista Helio Duque, também ele patrimônio da Petrobrás, três vezes deputado pelo MDB e PMDB do Paraná, relembra a historia e não perde a esperança no futuro da empresa. GRAÇA No Senado, a presidente da Petrobrás, Graça Foster, passou por um constrangimento ao dizer que seu marido ‘não tem negócios” com a Petrobrás e ser desmentida pelo senador Mario Couto, do PSDB do Pará, que lhe mostrou uma “Folha de S. Paulo” de 2010, quando a empresa C. Foster, de Colin Vaughan Foster, tinha “20 dispensas de licitação para fornecer componentes eletrônicos”. E “desta vez ela silenciou” (Folha”). Não precisava ter silenciado, se conhecesse as “Confissões” do incomparável Santo Agostinho. Bispo de Hipona (hoje Annaba, na Argélia), ele fugia a um cerco policial quando o barco em que estava como único passageiro foi interceptado. Perguntaram-lhe: – O bispo Agostinho passou por aqui? – Não. Liberado, o barqueiro estava escandalizado : – Senhor bispo, o senhor, que é um santo, mentiu. – Não menti. Ele me perguntou se eu “havia passado”. Eu disse que não. “Estava passando”.É diferente. Não menti. Fiz uma “restrição mental”. Dona Graça, como Santo Agostinho, seu marido “não tem” mesmo contratos com a Petrobrás. “Teve”. É diferente. Na próxima, dona Graça, quando for falar à CPI, leia Santo Agostinho. Quem vai ficar constrangido e calado é o Mario Couto. O PRIMO – Sabem por que o PT se lambuzou tanto com o doleiro Youssef ? – Pensaram que ele é primo da Dilma Roussef. O som é o mesmo…
Por Sebastião Nery