Em meio a tantas denúncias de má aplicação de generosas verbas para as chamadas “organizações não governamentais” com foco na inclusão social, passando pela doação disso ou daquilo, cestas básicas e outras não tão básicas, auxílio sem controle algum e benesses que beiram o desperdício, além de formação escolar ou profissional que termina exatamente onde devia começar a sua missão (dar ao assistido condições de se manter com o que aprendeu e não simplesmente torná-lo orgulhoso ou vaidoso com o que faz sem faturar absolutamente coisa alguma e sem nenhuma perspectiva de crescimento), em meio a tudo isso e muito mais, vemos surgir uma nova corrente – felizmente e graças a Deus – que nada tem de ONG: são os empreendedores sociais.
Muitas empresas assim identificadas, notadamente no exterior e ainda timidamente no Brasil, já começam a ter mais impacto do que as ONGs e tendem a ganhar mais notoriedade pela eficaz contribuição aos setores da sociedade em que o poder se retirou (ou nunca esteve) ou não conseguiu atuar de modo eficiente enquanto terceirizava para ONGs criadas em cima da hora e no “jeitinho” certo para abocanhar estratosféricas verbas oficiais ou do setor privado desavisado. Para isso, já efervescia até um comércio de CNPJ com mais de três anos de registro, conforme a legislação exige para as dotações fermentadas na ganância e na corrupção.
A ciranda das ONGs devoradoras de verbas (nem todas, felizmente) está chegando ao fim. Surgem os empreendedores sociais, com a missão de causar impacto social e ambiental como jamais seria conduzido pelos governos. A iniciativa privada atua como empresa, mas pode fazer parcerias com a sociedade ou até mesmo com o setor público, mas dando as cartas e com ênfase para investimentos de impacto, aportando capital em empreendimentos capazes de provocar reais mudanças sociais e ambientais. Não se trata simplesmente de fartar o homem com doações e paparicos pontuais, efêmeros, sazonais e hipócritas, e sim investir em negócios com grande alcance social, que possam, inclusive, ser fiscalizados e até mesmo taxados no caso de bom retorno do investimento. Afinal, o empreendimento social é um negócio. A isenção fiscal gera brechas e ambiguidades, além de injustiça e impunidade, e deixa os agentes soltos como pintos no lixo, com raras exceções – é claro.
Há importantes empresas bilionárias prontas para investir e aplicar em ideias inovadoras, capazes de realizar transformações sociais importantes e necessárias. Não se trata de fazer filantropia, dar o pão a quem tem fome, a água a quem tem sede, ensinar a fazer o que nunca trará sustentabilidade.
Algumas empresas, felizmente, mesmo sem terem como finalidade o empreendedorismo social, possuem pelo menos esse pensamento velado em seus negócios, e tive oportunidade de constatar isso quando, pela Oficina de Talentos – um empresa com perfil eminentemente social, procurei parcerias (e achei) para recente projeto de recuperação de uma igreja em ruínas no Birindiba, projeto esse que previa a revitalização do bairro inteiro, resgatado do caos, abrindo assim importante oportunidade para outros projetos capazes de transformar não apenas uma capela ou uma escola, mas o próprio homem.
Cá entre nós, há muitas pessoas desperdiçando seus talentos porque se sentem como aquela capela: entregues ao “Deus proverá” ou satisfeitas com o pouco que auferem. Se não se agarrarem às oportunidades, se não abrirem seus próprios caminhos, terão que esperar sentadas pela providência divina, enquanto contabilizam migalhas após se submeterem a remunerações humilhantes e ao desgaste moral, vendo o pouco que construíram se transformar em ruínas, como a capela.
Deus não alcança os descansados e os que amarram seus burros à sombra e a eles se assemelham, ou não teria sido, ELE, o primeiro grande empreendedor neste universo.
Fernando Volpi é secretário de Turismo e Esportes de Canavieiras.