Perto da votação na campanha de 2018, ACM Neto e Elmar Nascimento estimaram quantos deputados a bancada da oposição elegeria. Neto, então, perguntou ao aliado:
– Quantos votos você vai ter?
– Entre 100 e 110 (mil)… – respondeu Elmar.
– Não. Com os apoios que você tem, você vai ter mais de 150 mil votos.
– Não tenho. Eu fiz pesquisas nos principais municípios e não está correspondendo aos apoios que tenho. Votação vai falhar. Esse negócio de dizer que a gente apoiou o governo do presidente Temer, votou a favor da reforma trabalhista, contra o trabalhador, pegou e isso vai prejudicar muito.
– Eu tive aqui com Aleluia. Ele me disse que vai ter 120 mil – retrucou Neto.
– Se ele tiver 120, eu vou ter 200, porque eu sei os apoios que ele tem e eu tenho. Mas isso não vai acontecer nem comigo nem com ele, nem com ninguém. A gente vai pagar um preço caro – previu Elmar.
Dito e certo. A campanha bem-sucedida do PT baiano contra o ”time de Temer” ou ”time do golpe” varreu vários aliados de ACM Neto naquela eleição de 2018. A bancada da minoria na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados minguou. Quatro anos depois, os petistas tentam repetir a estratégia eleitoral. Quer associar o grupo de Neto e o próprio ex-prefeito a um presidente da República impopular. Desta vez, Jair Bolsonaro. Mas a questão é: esse discurso do PT vai vingar contra ACM Neto? A política gosta de fugir à regra para mostrar que não aceita profetas, mas eu arriscaria dizer que a tática eleitoral do PT para 2022 é frágil e pode falhar.
Diferentemente dos correligionários, ACM Neto é um ator político com enorme visibilidade pública e com identidade política constituída. ACM Neto já era ACM Neto na Bahia muito antes de Bolsonaro se tornar uma figura nacional. Além disso, o ex-prefeito passou o ano de 2020 todo se posicionando contra o negacionismo de Bolsonaro na pandemia da Covid-19, o que lhe garantiu mais de 80% de aprovação ao deixar o governo. Também se manifestou em defesa da democracia nas vezes em que o presidente ameaçou as instituições brasileiras.
Ademais, a estratégia petista parece confusa para o eleitorado. Incentivam a candidatura do ministro João Roma para que tire votos de ACM Neto, mas, ao mesmo tempo, diz que o candidato bolsonarista na Bahia é o ex-prefeito. Difícil convencer o eleitor com esse discurso ambíguo. Ao ter apenas como tática atrelar Neto ao bolsonarismo, os petistas acabam também dando a sensação de que os oito anos de mandato do democrata foram de excelência sem margem para qualquer questionamento.
Na campanha de 2012, o PT de Salvador adotou um método semelhante ao associar ACM Neto ao impopular prefeito João Henrique, e não deu certo. Como sabemos, Neto acabou sendo eleito prefeito da capital baiana naquele ano. A ausência de discurso consistente do PT contra ACM Neto me faz lembrar o ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill.
Na década de 1940, quando estava próximo à derrota na eleição geral, ele desabafou com o seu médico Lorde Moran: ”Tenho a forte sensação de que o meu trabalho está acabando. Não tenho mensagem nenhuma. Eu tinha mensagem. Agora digo apenas: ‘Combatam esses malditos socialistas. Não acredito neste admirável mundo novo”.
Hoje, o PT baiano parece só saber dizer: “combatam esses malditos bolsonaristas”. Quando um partido governista (ou o político) fica sem discurso é sinal de que caminha para ser oposição.
*Rodrigo Daniel Silva é repórter da Tribuna e escreve para a Tribuna quinzenalmente às terças