Deputado baiano Elmar Nascimento se reúne com Jair Bolsonaro em busca de apoio na sucessão de Lira

O deputado federal Elmar Nascimento (União Brasil-BA) se reuniu na semana passada em Brasília com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em busca de apoio na sucessão de Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara dos Deputados.

Segundo relatos de interlocutores dos dois políticos, não foi firmado um acordo sobre eventual apoio, mas o encontro entre eles é uma sinalização de que isso pode ser construído até a eleição da Mesa Diretora, que ocorrerá em fevereiro de 2025.

Essa reunião ocorre em um momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem enfrentado desgaste de popularidade e sofrido derrotas no Congresso Nacional, com protagonismo de parlamentares da direita, como na sessão do Congresso desta semana.

Nela, os parlamentares derrubaram o veto do petista a trecho da lei que acaba com as saídas temporárias de presos e mantiveram veto de Bolsonaro, barrando a tipificação do crime de ”comunicação enganosa em massa”. Além disso, a oposição conseguiu apoio da maior parte dos partidos de centro e de direita para manter na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) diretrizes que fazem parte da agenda de costumes do bolsonarismo.

Deputados que se apresentam como pré-candidatos e buscam se viabilizar na eleição cortejam apoio do PL, já que o partido tem a maior bancada da Câmara, com 95 deputados. Além disso, uma sinalização de Bolsonaro também poderia agregar apoio de parlamentares bolsonaristas de outras bancadas da direita e da centro-direita na Casa.

Aliados do ex-presidente dizem que esse processo terá protagonismo do próprio Lira, e que tanto Bolsonaro quanto o PL deverão apoiar o nome que o alagoano indicar como sucessor, caso o partido não apresente um candidato próprio.

Lira afirmou publicamente que gostaria de contar com o apoio tanto do PL quanto do PT em torno do deputado que escolher e que deverá tomar uma decisão em agosto. Como a Folha de S.Paulo revelou, em busca do apoio do governo federal, ofereceu a Lula o poder de veto a candidatos.

Além de Elmar, que é líder da União Brasil na Câmara, também se colocam na disputa o presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), e os líderes do PSD, Antonio Brito (BA), e do MDB, Isnaldo Bulhões Jr. (AL).

Desses, Elmar é considerado o aliado mais próximo de Lira. Mas, segundo relatos de interlocutores do alagoano, o próprio presidente da Câmara tem dúvidas sobre a viabilidade da candidatura. Na avaliação de aliados de Bolsonaro, ainda é cedo para um apoio explícito a algum deputado. Apesar disso, pelos nomes que se apresentam hoje, Elmar é visto como o que poderá receber esse endosso futuramente.

Eles afirmam que Elmar, caso seja eleito, deve manter à frente da Câmara a mesma postura de Lira, com acenos à pautas da direita. O alagoano esteve no palanque de Bolsonaro em 2022. Um possível apoio do PL, porém, poderá representar um obstáculo a mais a eventual endosso do governo ao nome do deputado do União Brasil. Ele é rival do PT na Bahia e, por esse motivo, teve inclusive seu nome vetado para ocupar um ministério no governo Lula.

Marcos Pereira enfrenta resistência de deputados bolsonaristas. Recentemente, foi atacado por esses parlamentares por defender o andamento de matérias relacionadas ao combate às fake news e à regulação da inteligência artificial (IA) –pautas que mobilizam a base bolsonarista, contrária a essas matérias. Há quem defenda que Bolsonaro vete o nome de Pereira, mas isso ainda não é consenso na bancada. Em maio, o deputado se reuniu com o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, que o chamou de “grande amigo” em publicação nas redes sociais.

Já Antonio Brito é considerado alinhado ao governo Lula, apesar de ter a simpatia do próprio Bolsonaro. O deputado tem ainda um bom trânsito com parlamentares e líderes da direita, assim como entre diferentes bancadas da Casa.
No fim de abril, ele esteve com Valdemar. O dirigente partidário publicou imagem de um encontro com Brito em suas redes sociais e, naquele momento, afirmou à Folha de S.Paulo que o deputado é um “bom candidato” e que membros do PL respeitam o parlamentar.

Apesar disso, pesa contra Brito o fato de ele ser próximo do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, que é desafeto de Bolsonaro. Há uma avaliação de que, caso Brito seja eleito, Kassab ganharia poder excessivo na Câmara.
Isnaldo Bulhões Jr., por sua vez, não tem contato com Bolsonaro. Apesar disso, é considerado um parlamentar que circula entre as diferentes bancadas da Casa. Ele enfrenta um obstáculo, no entanto, por ser do grupo político do senador Renan Calheiros (MDB-AL), adversário de Lira em Alagoas.

*por Victoria Azevedo / Folha de S. Paulo