Segundo dia de greve dos petroleiros, esta terça-feira, é decisiva para a mobilização. De um lado, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e sindicatos associados avaliam os riscos de ter suas contas bloqueadas, como determinou ontem o Tribunal Superior do Trabalho (TST). Dois dos sindicatos já abandonaram a greve, segundo uma liderança que prefere não se identificar. De outro, grupos de caminhoneiros tentam convencer o conjunto da categoria a aproveitar a oportunidade para também cruzar os braços e pressionar o governo pela revisão da tabela de frete.
A FUP e a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), por meio de suas assessorias de imprensa, negaram qualquer aproximação entre petroleiros e caminhoneiros em nome de uma mobilização conjunta. A CNTA é formada por 10 federações e 140 sindicatos. No governo, segundo fonte, a avaliação é que essa é apenas mais uma ameaça de lideranças que, desde setembro do ano passado, vêm usando o argumento da greve para coagir o ministério de Infraestrutura. Segundo apurado pelo Estadão/Broadcast, o tema foi realmente ventilado em grupo de whatsapp do qual participam representantes sindicais, mas é grande a resistência dos que não querem politizar as discussões com o governo.
Os caminhoneiros vão se reunir com representantes do Ministério de Infraestrutura, em Brasília, na próxima quinta-feira. Será o Fórum do Transporte Rodoviário de Cargas, que acontece bimestralmente, e tem, entre outros temas de discussão, a tabela de frete. O ministro Tarcísio de Freitas está em Londres, num roadshow, para atrair investidores para projetos de sua área. Não vai participar do fórum. A assessoria de imprensa do ministério também negou que haja qualquer reunião com técnicos marcada para tratar de greve.
Wallace Costa Landim, o Chorão, conhecido por ter sido um dos líderes da greve de 2018, confirmou que há um debate nas redes sociais entre dois grupos e que um deles pressiona pela adesão à greve dos petroleiros. ”Existem dois times querendo tocar a bola, um deles para explodir um movimento político. Estamos no limite, insatisfeitos, mas acredito em outras soluções. A gente tem que ter responsabilidade”, disse Chorão. Outra entidade, que pediu anonimato, também defende alternativas técnicas para melhorar as condições de trabalho dos caminhoneiros.
As duas categorias – caminhoneiros e petroleiros – estiveram reunidas na greve de 2018, que contribuiu para a demissão do então presidente da Petrobrás, Pedro Parente, e levou o governo a subsidiar o preço do óleo diesel até o fim daquele ano. Mas, nas eleições presidenciais, elas ocuparam posições políticas opostas: a maioria dos caminhoneiros apoiou o presidente Jair Bolsonaro, e os petroleiros, partidos de esquerda, principalmente o PT.
”Tanto a FUP quanto os seus 13 sindicatos de petroleiros, de todo o Brasil, não mantêm ou mantiveram quaisquer tratativas com qualquer das entidades que representam os caminhoneiros do País sobre a possibilidade de uma greve em conjunto, embora reforcem seu respeito a esta categoria profissional”, informou em nota a federação.
A FUP divulgou comunicado respondendo ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que ontem, em Washington, criticou a greve dos petroleiros. “Você tem excelentes salários (na Petrobrás), bons benefícios, você tem quase estabilidade de emprego e tenta usar o poder político para tentar extrair aumento de salário no momento em que há desemprego em massa? Se fosse uma empresa privada e eu fosse o presidente de uma empresa privada, eu sei o que eu faria”, afirmou o ministro.
A FUP rebate que ”Guedes ignora que a Constituição Federal, em seu artigo 9º, e a Lei no 7.783, de 1989, asseguram o direito de greve a todo trabalhador brasileiro”. ”A greve, portanto, é uma ação legítima, um direito do trabalhador de lutar por melhores condições de trabalho em sua categoria profissional”, acrescenta a FUP. Do Estadão Conteúdo