O presidente Jair Bolsonaro reagiu com agressividade nesta sexta-feira (20) ao ser questionado pela imprensa sobre as suspeitas em torno do gabinete de seu filho Flávio Bolsonaro quando esse era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio.
O pivô da investigação é Fabrício Queiroz, policial militar aposentado que era assessor de Flávio. A origem da relação de Queiroz com a família Bolsonaro é o presidente da República. Os dois se conhecem desde 1984 e pescavam juntos em Angra dos Reis.
Queiroz depositou R$ 24 mil na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro em 2016. O presidente afirma se tratar de parte da quitação de um empréstimo de R$ 40 mil.
Na manhã desta sexta-feira, ao ser questionado se teria comprovante do empréstimo que diz ter feito a Queiroz, o presidente respondeu a um repórter do jornal O Globo: ”Oh rapaz, pergunta para a tua mãe o comprovante que ela deu para o teu pai, tá certo?”
A entrevista de Bolsonaro em frente ao Palácio da Alvorada foi marcada por hostilidades e provocações aos jornalistas presentes, tanto por parte do mandatário quanto por parte de um grupo de apoiadores que o saudava no local.
O mesmo repórter perguntou em seguida sobre os desdobramentos da investigação do Ministério Público do Rio sobre Flávio. Bolsonaro respondeu mais uma vez de forma agressiva: ”Você tem uma cara de homossexual terrível, nem por isso eu te acuso de ser homossexual. Se bem que não é crime ser homossexual”, retrucou o presidente.
Neste ano, o STF (Supremo Tribunal Federal) concluiu julgamento que enquadrou a homofobia e a transfobia na lei dos crimes de racismo até que o Congresso Nacional aprove uma legislação sobre o tema.
Hoje Bolsonaro nega que seja homofóbico e contra os gays. Em 2011, ainda como deputado, disse o seguinte: ”Seria incapaz de amar um filho homossexual. Não vou dar uma de hipócrita aqui. Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí.”
O Ministério Público do Rio afirma que Flávio lavou até R$ 2,3 milhões com transações imobiliárias e com sua loja de chocolates em um shopping da Barra da Tijuca, zona oeste da cidade. As operações tiveram como semelhança o uso de grande quantidade de dinheiro vivo.
Para a Promotoria, a origem desses recursos em espécie é o esquema de “rachadinha” no antigo gabinete do senador na Assembleia, operado por Queiroz.
Sobre uma das suspeitas, Bolsonaro repetiu o filho, disse que ”ninguém lava dinheiro em franquia” e atacou o MP estadual, o juiz do caso e o governador do Rio, Wilson Witzel. ”As franquias são controladas, não é o cara abre a franquia e a matriz abandona. Ninguém lava dinheiro em franquia”, declarou o presidente.
A Kopenhagen afirmou, em nota, que não realiza ”nenhum tipo de auditoria fiscal com seus franqueados, que são pessoas jurídicas totalmente independentes da franqueadora”.
”A marca afirma que possui um amplo manual de normas e procedimentos operacionais, já que preza a padronização de toda a rede de franquias e a garantia de qualidade. Esses aspectos operacionais são auditados pelo grupo a fim de preservar os atributos do ponto de venda, mantendo a excelência dos processos”, diz a nota da empresa.
Ainda nesta sexta-feira, ao se referir aos altos valores apontados pelo MP-RJ, Bolsonaro comparou seu filho ao jogador de futebol Neymar.
”Acusaram ele também de estar ganhando mais na casa de chocolate. Quem leva mais cliente —e ele leva um montão de gente importante pra lá— ganha mais. É a mesma coisa de chegar para o Neymar [e perguntar]: ‘Por que ele está ganhando mais do que os outros jogadores?’ Porque ele é mais importante. Não é comunismo.”
A exemplo de Flávio, o presidente atacou o juiz do caso, Flávio Itabaiana, pelo fato de o magistrado ter uma filha trabalhando na Secretaria Estadual da Casa Civil.
”Você já viu o Ministério do Público do Rio de Janeiro investigar qualquer pessoa ou ato de corrupção, qualquer deslize de agente público do estado? É o estado mais corrupto do Brasil. Vocês perguntaram para o governador Witzel por que a filha do juiz Itabaiana está empregada com ele? E pelo o que parece, não vou atestar aqui, é funcionária fantasma. Já foram em cima do Ministério Pública para ver se vai investigar o Witzel?”
Folha de S.Paulo