No meio dos biomas Caatinga e Mata Atlântica, no Recôncavo da Bahia, tem um lugar com nome de santa. Entre paredões rochosos e vegetação de contrastes, um cenário charmoso, distante 202 quilômetros de Salvador. Os paralelepípedos, a velha locomotiva e a discreta placa anunciam Santa Teresinha. A pacata cidade com pouco mais de 10,5 mil habitantes esbanja peculiaridades de municípios do interior do Brasil. Por exemplo, a devoção à santa que dá nome ao local. Lá, além da reverência ao sagrado, os moradores veneram os pedais. A bicicleta foi entronizada em Santa Teresinha, ao ponto de tornar-se símbolo da última eleição municipal, em 2012, e guiar um dos cidadãos ao altar: a prefeitura. Numa disputa a la Davi e Golias, o então funcionário público Ailton de Oliveira Santana, 41 anos, venceu o pleito com 98% dos votos válidos graças à magrela. É que corre pela cidade a história de que o ex-gestor, na época candidato à reeleição, teria menosprezado o futuro rival por causa do seu meio de locomoção. ”O prefeito anterior disse que jamais perderia a eleição porque ele tinha um carrão 4×4 e Ailton uma bike. Ele perguntava: “como é que o cara da bicicleta vai ganhar pra mim?” Quando o povo soube desse desaforo, deu a resposta nas urnas. Todo mundo pedala aqui e comprou a ofensa”, conta o professor de História, Ivan Lima. O funcionário público, então lotado no departamento de Recursos Humanos da prefeitura, ficou conhecido na cidade, e nas circunvizinhanças, como “Ailton da Bicicleta”. Ele afirma nunca ter cogitado ocupar um cargo político. “Nem pensava nisso, mas meu nome começou a surgir pela falta de concorrência e o povo queria mudar a gestão. Não tinha carro e fazia tudo de bicicleta. O nome pegou”, relata o agora prefeito que, ao invés de carreatas durante a campanha, fez bicicletadas, segundo ele, com mais de mil participantes. Leia na íntegra