O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) toma posse neste domingo (1º) em uma cerimônia que será acompanhada por mais de 60 delegações estrangeiras, numa sinalização de prestígio de parte da comunidade internacional depois de o governo Jair Bolsonaro (PL) ficar marcado por atritos com parceiros tradicionais do país.
São esperados ao menos 17 chefes de Estado e de governo, com participação expressiva de líderes da América do Sul e de países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).
Aliado tradicional do petismo, o argentino Alberto Fernández viajará a Brasília e retornará no mesmo dia a Buenos Aires. Representantes da nova onda de esquerda que venceu pleitos recentes na região, os presidentes Gabriel Boric (Chile) e Gustavo Petro (Colômbia) também devem prestigiar a posse.
O uruguaio Luis Lacalle Pou, de centro-direita, por sua vez, incluiu na delegação dois ex-presidentes, de correntes distintas: Julio María Sanguinetti (1985-1990 e 1995-2000) e José Pepe Mujica (2010-2015). De acordo com a embaixada uruguaia, o gesto ”personifica os profundos laços de amizade e os sólidos e históricos vínculos existentes entre Uruguai e Brasil”.
Também parceiro do Mercosul, o Paraguai estará representado pelo presidente Mario Abdo Benítez, um dos principais aliados regionais de Bolsonaro nos últimos anos.
Com a deposição de Pedro Castillo após uma tentativa de golpe de Estado no Peru, o país andino deve ter a delegação liderada pelo primeiro-ministro Alberto Otárola, não pela presidente Dina Boluarte. Avesso a viagens internacionais, o mexicano Andrés Manuel López Obrador escalou como enviada a Brasília a esposa, Beatriz Gutiérrez Müller.
A lista de chefes de Estado ainda pode sofrer modificações, uma vez que o governo Bolsonaro revogou na sexta (30) uma portaria que proibia o ingresso no Brasil de altas autoridades da ditadura venezuelana. Isso abriu a possibilidade para que Nicolás Maduro viaje para a posse de Lula, seu aliado de outros tempos. Embora provável, a presença ainda não está totalmente confirmada, devido a dificuldades de organização de um deslocamento de última hora.
Na comparação com a posse de Bolsonaro, em 2019, Lula conseguiu um comparecimento mais expressivo de autoridades estrangeiras. Foram 11 chefes de Estado ou governo na ocasião, com destaque para líderes da ultradireita com quem o presidente que ora se despede do cargo buscou alinhamento: o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu -que, por coincidência, acaba de voltar ao poder–, e o premiê da Hungria, Viktor Orbán.
A representação de Israel, desta vez, se dará por meio de um enviado especial. Bolsonaro também teve em sua posse a presença do então secretário de Estado americano, Mike Pompeo, num sinal de prestígio do presidente à época, Donald Trump. O brasileiro se declarou, antes mesmo de eleito, um admirador do republicano e fez do alinhamento a Washington prioridade da sua política externa.
Desta vez, a missão dos Estados Unidos será encabeçada pela secretária do Interior, Deb Haaland. Havia a expectativa de que Joe Biden enviasse a vice-presidente Kamala Harris ou o secretário de Estado, Antony Blinken. Um dos pontos considerados, segundo interlocutores, é que Lula deve realizar uma visita a Washington ainda no início do mandato, quando deve ter encontros com o democrata e outras autoridades.
Outra mudança em relação a 2019 é que Bolsonaro deu naquele ano ordem para que os regimes de Venezuela e Cuba fossem desconvidados das solenidades –a tradição é que sejam enviados convites para todos os países com os quais o Brasil mantém relações diplomáticas.
Neste ano, além do esforço para que Maduro esteja presente, o governo de transição obteve a confirmação de que a delegação de Cuba será liderada por Salvador Valdés, vice do líder Miguel Díaz-Canel.
Na Europa, continente que deve ser prioritário para a política externa de Lula, três países escalaram chefes de Estado, mas que têm cargos majoritariamente cerimoniais: Portugal, com o presidente Marcelo Rebelo de Sousa; Espanha, com o rei Filipe 6º, e Alemanha, com o presidente Frank-Walter Steinmeier.
A França, cujo presidente, Emmanuel Macron, recebeu Lula em Paris ainda em 2021, antes da eleição, terá sua delegação chefiada pelo ministro Olivier Becht (Comércio Exterior, Atratividade e Cidadãos Franceses no Exterior).
*Ricardo Della Coletta / Folhapress