O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é a nova “bola da vez” da Operação Lava Jato. Acusado pelo delator Júlio Camargo, da Toyo Setal, de pedir propina de US$ 5 milhões num contrato de aluguel de navios-sonda para a Petrobras, ele agora anuncia seu rompimento com governo Dilma e sinaliza que dará andamento célere à análise das contas de governos anteriores, abrindo espaço para um eventual processo de impeachment ancorado na decisão do Tribunal de Contas da União sobre as chamadas pedaladas fiscais. Cunha poderia ser, portanto, o novo “homem-bomba”, capaz de implodir a República.
No entanto, o poder de fogo do presidente da Câmara pode ser bem mais limitado do que se imagina. Hoje, se decidisse contar tudo o que sabe, especialmente quais foram os bastidores de sua vitória, poderia causar bem mais estragos ao Legislativo do que ao Executivo – que, diga-se de passagem, fez o que pôde para impedir sua eleição. Dos 267 deputados que votaram nele, garantindo a vitória em primeiro turno, quantos realmente o fizeram por convicção?
Essa circunstância poderia, eventualmente, ser um trunfo a favor de Cunha. Como tem muitos parlamentares na mão, poderia obrigá-los a votar de acordo com os seus interesses. Ocorre que a traição é a regra número 1 da política e Cunha já tem adversários não apenas na bancada petista, mas dentro do próprio PMDB, que já discute até a sua sucessão como presidente da Câmara.
Um dos gritos de alerta foi feito pelo deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que o acusou de ser um “ditador”. Há ainda uma revolta gigantesca, no parlamento, com o ritmo com que ele conduziu as votações de temas importantes, como a reforma política – o mais provável é que, no pós-Cunha, tudo aquilo que se decidiu no atropelo seja revisto com mais calma e ponderação.
Além disso, mesmo que Cunha tivesse toda a capacidade do mundo para incendiar o País, ninguém sabe ao certo se ele chegará são e salvo ao mês de agosto. Depois de ironizar a Polícia Federal, pedindo que não chegasse antes das 6h à sua casa, e de ameaçar o procurador-geral Rodrigo Janot, ele pode ser implodido antes de mesmo de acionar seus explosivos.
Por Leonardo Attuch