O rio São Francisco, ou Velho Chico, que um dia já foi chamado de rio da integração nacional, está desintegrando.
O lago de Sobradinho está com 18% da sua capacidade. Ano passado, nessa mesma época, tinha 54% após três anos de seca. Perdeu 20% até setembro. Já que agora, fim de verão, entra o período de chuvas escassas, como ele estará no setembro vindouro?
A pergunta está deixando em pânico milhares de agricultores, especialmente de manga e uva, instalados ao longo das bordas do lago e do São Francisco. São 120 mil hectares irrigados, 240 mil empregos.
Eduardo Salles (PP), ex-secretário da Agricultura, hoje deputado estadual, diz que a situação é alarmante. Ele lembra que a vazão de Sobradinho está hoje em 1.150 metros cúbicos por segundo, um volume baixo:
– Se chegar a 900, pára de gerar energia. Se chegar a 600, pára também a irrigação. E aí, teremos o caos social.
Ele sugere até que o governo adote uma postura inédita: prepare flutuantes para possibilitar a captação do volume morto, em caso do pior acontecer.
– Se as mangueiras e os vinhedos morrerem, a recuperação demora 20 anos.
Detalhe: a irrigação sem o devido controle também é apontada como carrasca do rio.
Falta de gestão – Luiz Dourado, membro da Câmara Técnica Institucional Legal do Rio São Francisco e do Comitê Hidrográfico da Bacia do São Francisco, reclama da falta de informações sobre o rio na Bahia. Cita que no governo Paulo Souto havia acompanhamento, mas hoje os órgãos estaduais batem cabeça:
– No caso, por exemplo, do número de outorgas para usos múltiplos do rio (navegação, hidroelétrica, irrigação etc), o Inema informa 680, enquanto a Cerb, 1800.
Lógica invertida – O senador Otto Alencar (PSD), presidente da Comissão do Meio Ambiente do Senado, diz que tenta reverter o entendimento do governo sobre o tratatamento dispensado ao rio São Francisco por entender que do jeito que as coisas vão, o destino do rio é morrer.
– O Orçamento da União destina R$ 1,2 bilhão para obras de transposição e R$ 160 milhões para a revitalização. Vão transpor que água? O correto é parar a transposição e apostar tudo na revitalização.